Quanto maior o giro, maior a perda

08/09/2017

Desta vez quero ir além da retórica de Daniel Khaneman que tanto argumenta que a principal razão para o fracasso de investidores individuais na bolsa de valores está relacionado ao elevado "giro" que resulta em elevadas despesas transacionais. Tomando emprestado a analogia utilizada pelo autor Malcolm Gladwell em seu livro, Davi e Golias, no qual narra a vitória de um frágil pastor sobre um poderoso guerreiro, argumento aqui que a única forma pela qual, nós, "traders" e investidores individuais, poderemos obter sucesso é se expondo na bolsa de forma cada vez menos frequente. Digo isso pois o banco JP Morgan, através de um de seus relatórios, nos informa que 60% das ações disponíveis no mercado americano pertencem a fundos passivos e quantitativos, e que somente 10% do volume negociado na bolsa origina-se de forma tradicional, imputada por humanos. Por isso, 90% do trading é feito por máquinas que cada vez mais fazem uso de mecanismos de aprendizado (machine learning) para fazer suas operações. Tais softwares buscam detectar padrões de comportamento e, com base nisso, fazer previsões sobre como as contrapartes deverão agir. O jogo está cada vez mais sofisticado, de forma que atitudes heroicas de um passado longínquo são cada vez menos prováveis. Lutar contra "traders" de alta frequência, por design, é uma tarefa ingrata, pois mesmo que fossemos mais espertos do que as máquinas, largamos em desvantagem em termos de custos operacionais.

Dito isso, é importante ressaltar que haverá sempre oportunidades de ganhos na bolsa. Vou além, e digo que o investidor prudente e paciente está imune aos efeitos da Inteligência Artificial que tanto ameaçam diversos setores da sociedade. Passados quase 100 anos, o especulador Jesse Livermore, ainda hoje, poderia ser um grande trader. Não podemos dizer o mesmo de atletas da mesma época, pois os avanços em termos de massa e explosão muscular foram tão expressivos que aqueles que eram os mais rápidos há um século, nem sequer se qualificariam para um evento de ponta na atualidade. Já o cérebro, este continua com o mesmo número de neurônios. A regra de ouro em termos de investimento parece continuar a mesma, e é aquela tão bem colocada por Jim Cramer: Discipline Trumps Conviction. E a disciplina aqui não só se restringe a ser fiel a sua estratégia, mas conseguir conter seus próprios impulsos. Se estou parecendo professoral demais aqui, talvez seja até uma forma de auto-convencimento, pois eu constantemente peco por excesso de giro.

Em tempo... o site ZeroHedge nos traz uma matéria comentando sobre uma empresa especializada em trading quantitativo (Domeyard Investments), comandado por 3 jovens com menos de 30 anos, que gira diariamente US$1 bi e termina o dia sempre com suas posições zeradas. A empresa recebeu aporte financeiro de um dos fundadores da famosa empresaRenaissance Technologies, o que certamente dá uma certa credibilidade. Na reportagem a empresa diz fazer uso de "sequential machine learning" e fazer uso de computações estatísticas em larga escala. Para ser sincero, não faço ideia do que isso de fato representa. Mas, convenhamos que o nome assusta! Eles são traders de alta frequência, os famosos HFTs. Não sei dizer se estão no Brasil, mas por aqui, a concorrência é grande. Estes lotes de milhões de ações que vemos nos leilões de fechamento das principais ações da bolsa certamente tem a ver com tais estratégias. Por isso, avalie sua estratégia. Caso esteja girando demais, experimente reduzir o tamanho do lote negociado. Isso o deixará mais calmo e menos impulsivo.

Um bom fim de semana,

Marink Martins, CNPI

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