Quem tem medo do "lockdown"?

06/01/2021

Aparentemente poucos! Ontem os "comprados" puniram os "vendidos" com um clássico "chicote" nos minutos que antecederam a abertura da bolsa nova iorquina.

Refiro-me ao fato de as principais ações brasileiras terem caído fortemente na primeira hora de pregão para, em um intervalo de minutos, registrar uma recuperação surpreendente, daquelas de deixar vendido em opções falando sozinho... Identificar o catalisador é sempre complexo, mas podemos dizer que a possibilidade de um domínio democrata no congresso americano é algo que parece beneficiar os mercados emergentes. Pelo menos ontem foi o que pareceu. Todavia, o principal catalisador foi a atitude surpreendente da Arábia Saudita de cortar sua produção para os meses de fevereiro e março.

A notícia provavelmente circulou nas mesas dos bancos bem cedo, de forma que um banco americano foi destaque na compra de ações da Petrobras PN e responsável pela forte reversão na trajetória do preço do ativo.

O fato do representante saudita na OPEP ter mencionado que se tratava de uma atitude preventiva em meio a expectativa de "lockdowns" ao redor do mundo foi aparentemente ignorada pelo mercado. As ações da Petrobras subiram seguindo o movimento registrado por outras petrolíferas no mercado americano.

Bem, isso tudo já é história.

Para esta terça-feira, devemos estar atentos a como os mercados se comportarão diante dos seguintes eventos:

  • Votação na Geórgia: no momento em que escrevo (6:50), os democratas já garantiram uma das vagas e estão à frente na contagem dos votos da segunda vaga. A vantagem é mínima e poderá ser revertida até que tal contagem seja finalizada.
  • "Lockdowns" na Europa: Não é só o Reino Unido que está em "Lockdown". A Alemanha anunciou medidas ainda mais restritivas do que aquelas anunciadas em março do ano 2020.

Este segundo evento - os Lockdowns europeus - é abordado em detalhes pela casa de pesquisa Gavekal nesta terça-feira. De forma resumida, o analista nos diz que espera que o período entre 4T20 e 2T21 frustre às expectativas em termos de crescimento do PIB. Contudo, o analista faz um tremendo esforço para nos convencer que as economias estão bem mais adaptadas a viver neste mundo covidiano, de forma que, o impacto deverá ser bem mais ameno do que aquele visto no segundo trimestre de 2020.

Acima temos o PIB dos principais países europeus como percentual do nivel de atividade registrado no período que antecedeu a pandemia.

Além deste evento, um outro tema que poderá ter impacto hoje é a atitude das autoridades chinesas em meio a forte valorização do iune. Nesta madrugada, um dólar chegou a valer somente 6,43 iuanes, mas o movimento de apreciação foi interrompido devido a intervenções cambiais promovidas por bancos chineses.

Conforme mencionei em meu primeiro texto do ano, aquele distanciamento entre a volatilidade implícita (embutida nos preços dos derivativos) e a volatilidade realizada (oscilação observada nos mercados) teria que fechar! E foi justamente isso que ocorreu. Nos últimos dois dias a volatilidade realizada subiu e, em alguns momentos, superou a implícita.

Ao observarmos o que está em curso no mercado de cryptomoedas, podemos afirmar que a briga entre cautelosos e exuberantes é uma que tende a ser tão intensa e duradoura quanto os "lockdowns" europeus.

Aqueles que vivenciaram os temores dos mercados na época do BREXIT em 2016 estão incrédulos diante do otimismo visto desde o início de novembro. O fato é que os exuberantes (comprados em TESLA, Bitcoin e outros ativos de risco) estão mais ricos, assumem que têm os bancos centrais ao seu lado , e permanecem dando as cartas! Se você não é um exuberante, deixe de lado as previsões e se adapte.

Marink Martins

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