Quer embarcar na análise fundamentalista? Seguem alguns cuidados!

28/11/2017

Escrevi este comentário pensando na derrocada no preço das ações da WIZS3 e da BRIN3! Nele falo sobre algumas "regras de bolso", como desconfiar sempre diante de alguns relatórios, palavras e expressões.

Ontem, ao escrever mais uma vez sobre o intervencionismo dos bancos centrais (https://www.myvol.com.br/l/zeus-esta-vendo/), mencionei que as redes sociais vêm permitindo o ressurgimento da pop art, desta vez potencializando analistas, grafistas, filósofos, professores, músicos e muitos outros. Isso é muito bom, pois permite o acesso a informação de forma rápida e barata. Por um outro lado, exige um cuidado maior por parte do leitor para discernir o que é realmente válido em meio a tanta análise.

No que diz respeito a análise fundamentalista, aquela na qual buscamos entender uma empresa através de suas demonstrações de resultados, devemos ser especialmente cuidadosos, pois, ao contrário da análise gráfica, esta vem com a chancela do "homem do jaleco branco". E aqui, por "jaleco branco" me refiro a instituições que na teoria existem para proteger o investidor minoritário, mas que na prática, não é bem assim. Falo de auditores, de agentes reguladores, etc. Se você está familiarizado com os estudos do psicólogo de Yale, Stanley Milgram, já sabe que, diante da presença de autoridades do conhecimento como um médico, alguns pacientes, muitas vezes, se tornam um tanto "infantilizados". No mercado financeiro não é muito diferente. Muitos abaixam a cabeça diante de certificações, diplomas, etc.

Se você cursou administração de empresas, provavelmente aprendeu que o objetivo mor da diretoria de uma determinada empresa deve ser agregar valor ao investidor. Isso é BULLSHIT! Os diretores estão ali primeiramente para o olhar "o seu", e depois "o do acionista". Isso é natural; faz parte da natureza humana. E aí você diz: mas é por isso que temos um auditor! Será que você nunca leu a respeito do caso Enron e de sua relação com a Arthur Andersen? Pois é, ambas não estão mais presentes, mas suas práticas ainda são corriqueiras no mundo corporativo.

Dito isso, gostaria de compartilhar com vocês alguns sinais perturbadores ("red flags") que investidores devem ficar atentos ao analisar algumas demonstrações financeiras. Notem que a minha experiência na área de Relações com Investidores ocorreu em uma empresa que se provou ser extremamente problemática. Por isso, é provável que eu enfatize alguns pontos que não são necessariamente verdadeiros em empresas mais consolidadas.

Seguindo o espírito das finanças comportamentais, diante da complexidade, estabeleça regras de bolso (heurísticas). Sendo assim, DESCONFIE dos seguintes relatórios e de algumas palavras e expressões ao ver algumas demonstrações de resultados:

Release de Resultados, Apresentação de Resultados, Earnings Release:

Tudo a mesma coisa. Um instrumento de marketing. Vá direto para o ITR da empresa. Este, naturalmente, é mais árido. Não é tão bonito, mas é aí que você poderá achar algo de útil.

Modelo "Asset Light"

Empresas envolvidas com corretagem, seja ela de seguros, ações, imóveis e viagens, não necessitam de ter em seus balanços ativos de conversão como máquinas e outras. Dependem muito mais de seus corretores. Por isso mesmo, carregam "poucos" ativos contábeis e seus retornos, quando medido em comparação a tais ativos, tendem a ser elevados. Vangloriam-se de ter um elevado Retorno Sobre o Capital Investido.Ontem mesmo, eu ouvi um respeitado analista, ao falar sobre a derrocada no preço das ações da Wiz Seguros, dizer que a empresa tem um elevado ROIC. Nada contra tal analista. Ele disse a verdade, porém, deve-se tomar muito cuidado com tais empresas pois existe uma elevada chance de que tais ativos estejam sobrevalorizados! (falo mais sobre isso no próximo item).

Ativos Intagíveis

Após ter trabalhado em uma empresa listada na qual 80% de seus ativos eram intangíveis (e ainda são), confesso ter receio de explorar este assunto. Isso é uma caixa preta, com um grau de subjetividade imenso. Sua aprovação perante tais "jalecos brancos" é mais uma negociação do que qualquer outra coisa. Pessoas fora daquele mundo tem enorme dificuldade de entender e questionar tais premissas.

EBITDA ajustado

"De novo! Tá de sacanagem! Não aguento mais!"

É exatamente isso que penso quando vejo, trimestre após trimestre, CFOs explicando que isso e aquilo são "non-recurring items" (itens não recorrentes). Caso isso aconteça com frequência... está aí mais um "red flag" para sua lista.

Demonstração de Resultado PRO-FORMA

Saia correndo e não olhe para trás!!! Quer insistir? Faça você mesmo a sua projeção PRO-FORMA. Existe uma boa chance de que você conseguirá projetar com maior acurácia do que a diretoria.

Poderia facilmente listar mais dez itens que devem chamar a sua atenção. Não pretendo aqui, de forma alguma, te desanimar. Quero que você entenda as vulnerabilidades do sistema e caminhe consciente de que o que você vê nem sempre é a realidade.

Marink Martins, CNPI

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