Razões para a alta no rendimento dos títulos de 10 anos dos EUA

21/09/2018

Apesar da presença de inúmeras forças deflacionárias ao redor do mundo, o rendimento dos títulos do tesouro dos EUA ("long bonds" - 30 anos) voltou a subir e parece caminhar para um importante patamar indicado por analistas técnicos: 3,25%.

Alguns especulam que uma das razões para tal elevação na taxa estaria associada a um reaquecimento da economia norte-americana. Entretanto, quando observamos os dados de setores como o imobiliário e o de automóveis conclui-se que não há pressões de demanda neste exato momento.

Além disso, há sinais preocupantes ao redor do mundo que apontam para um desaquecimento das economias europeias e chinesa.

Historicamente, em situações como essa, é comum vermos a taxa dos "long bonds" fechando pois a percepção de segurança da renda fixa acaba atraindo capitais para tais títulos.

Contudo, há algo de novo que talvez justifique o atual comportamento dos juros. Estou falando do crescente endividamento norte-americano.

A tese de que ao cortar os impostos, Trump fará com que a economia norte-americana cresça a um ritmo acelerado o suficiente para não impactar o endividamento americano é uma que não se sustenta. 

O departamento orçamentário do governo americano ("Congressional Budget Office"), uma instituição que não está atrelada a partido algum, prevê que o déficit americano caminha para 5% do PIB nos próximos anos. 

Estima-se que o tesouro americano terá que captar mais de 1 trilhão de dólares do mercado somente este ano. Trata-se aqui de um evento que afeta a liquidez dos mercados com um enorme efeito de "crowding out" - um onde o estado toma recursos do mercado ao invés de canalizá-los para setores mais produtivos na economia.

Para finalizar, se somarmos os efeitos deste crescimento do endividamento dos EUA a narrativa descrita em meu outro comentário sobre a formação de uma nova zona monetária na ásia - esta ancorada pela moeda chinesa -- temos aí um catalizador importante para um cenário em que o dólar que poderá ficar cada vez mais escasso. 

Tudo isso, naturalmente, representa uma barreira para os países emergentes.

Marink Martins 


 

  

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