Reminiscências do massacre de 1994

10/09/2019

Dizem que mais importante do que prever a direção do mercado é se adaptar a ele.

Hoje estou mais preocupado em tentar detectar mudanças de sentimentos de mercado do que buscar saber o lucro por ação da Petrobras para o próximo trimestre.

Assim, aproveito para chamar atenção do leitor para o fato de que cresce a possibilidade de frustração por parte de agentes do mercado diante das iminentes reuniões das instituições monetárias. Para a quinta-feira, dia 12/9, o mercado já precifica a expectativa de que o BCE virá com uma série de estímulos monetários esquecendo que a instituição já se encontra debilitada em sua capacidade de reação.

De forma análoga, o mercado também trabalha com expectativas de cortes de 25 basis points nas três reuniões do FED marcadas até o fim deste ano. E se a sinalização das autoridades for outra? Como será que os mercados reagirão?

Há quem diga que os bancos centrais irão empurrar parte da responsabilidade para os legisladores, fazendo com que estes aprovem medidas orçamentárias que permitam expansão fiscal. Isso, em si, não é novidade. Já se comenta abertamente sobre a possibilidade de a Alemanha embarcar em estímulos fiscais que façam com que a união europeia evite entrar em uma profunda recessão.

O problema é que tais políticas fiscais expansionistas tendem a trazer inflação e, junto com isso, uma elevação na taxa de juros dos títulos de longo prazo.

Os amantes da história do mercado financeiro hão se lembrar do "massacre de 1994": um período em que o FED, de forma surpreendente, promoveu um aumento expressivo na taxa básica da economia. A consequente alta na taxa dos títulos de 30 anos norte-americanos não só abalou a estrutura do Banco Goldman Sachs, mas provocou a falência da prefeitura de Orange County na California. O mercado de hoje, turbinado por seus derivativos, é significativamente maior do que aquele de 94. Um aumento expressivo no "long bond" seria capaz de gerar um movimento de aversão a riscos com consequências nefastas de âmbito global.

Por tudo isso, em linha com o viés tático que venho seguindo em minhas análises, julgo ser recomendável uma pausa para esperar como os mercados reagirão aos comentários do BCE nesta quinta-feira.

Finalizo chamando atenção a derrocada no preço das ações das empresas associadas ao varejo digital doméstico. Este movimento se iniciou na sexta-feira e ganhou tração ontem. É possível que tal movimento esteja atrelado a operação de subscrição de novas ações da B2W (R$2,5 bi) que tem a data do dia 23/9 como o último dia para que tal operação seja concretizada.

Marink Martins

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