Reunião de Buffet e um eventual VOL-magedon

03/05/2021

Há pouco mais de 20 anos -- na época da euforia em torno das ações de tecnologia do Nasdaq -- ninguém dava ouvidos para três dos maiores gestores da história dos mercados de capitais. Falo aqui de Warren Buffet, George Soros e Julian Robertson. Eles eram tratados como ultrapassados, presos a um modelo que foi vitorioso no passado, mas que já não tinha mais validade em um mundo dominado por novas empresas dotcom.


Curiosamente, neste fim de semana marcado pela reunião anual da Bershire Hathaway -- a holding capitaneada por Buffet e seu sócio, Charlie Munger, e sediada na cidade de Omaha, no estado de Nebraska, EUA -- os sócios, que hoje estão mais veteranos do que nunca, não se intimidaram quando perguntados a respeito de dois temas espinhosos: Bitcoin e a crescente presença do varejo nas bolsas de valores.

Ambos foram críticos, embora Buffet tenha aliviado bem mais do que Munger. O sócio de Buffet disse odiar o sucesso do Bitcoin, uma moeda que, em sua opinião, permite um elevado grau de ilicitude ao redor do mundo. Mais importante, porém, foram as críticas de Buffet ao grupo de especuladores do varejo comprando continuamente "CALLs" (opções de compra) nos mercados.


Confesso que, quando ouço Buffet falando, penso que, dado o seu comportamento e patrimônio acumulado, suas intenções são sempre as melhores para o povo e, consequentemente, para o país. Por isso, ouço de forma atenta e com muito respeito.


No passado, Buffet chamou os contratos de opções de "armas de destruição em massa". Ainda que, como trader de opções, eu tenha ficado um pouco ofendido com sua fala, confesso que o entendo perfeitamente. A busca por derivativos (contratos de opções de compra), da forma que estamos observando nos EUA desde janeiro deste ano, é um dos eventos mais importantes do momento para aqueles que buscam entender o momento do mercado. Estamos em um mercado onde a volatilidade realizada (aquela que observamos no dia a dia) está baixíssima. E isso ocorre justamente devido ao fato de que boa parte do varejo saiu em busca de ganhos exponenciais através das opções de compras (CALL options). Pois pensem comigo: se a "manada" está comprada e os "dealers" estão vendidos, quem você acha que é a força dominante desta história?


Observe que em fevereiro de 2018 o mercado viveu um evento que foi, posteriormente, apelidado de "VOL-MAGEDON". Tal evento sucedeu um período de baixíssima volatilidade e forte especulação em criptomoedas, com o bitcoin se aproximando de 20.000 dólares. Hoje, observamos novamente um período de baixíssimo VOL e também de forte especulação no mundo crypto. Há razões para acreditar que, em breve, veremos um novo "VOL-MAGEDON". Contudo, o curtíssimo prazo é dominado por um fluxo de recursos incessante para a renda variável e, como venho destacando por aqui, por um processo de normalização na conta TGA ("Treasury General Account"). Assim, continuo monitorando esses dois fatores de perto, pois uma mudança de regime de volatilidade deverá ocorrer em algum momento durante o verão norte-americano.


Marink Martins

www.myvol.com.br