Riscos Natalinos
Quando o assunto é mercado, não se deixe enganar pelo espírito natalino!
Estamos há duas semanas do fim do ano, e junto com o cansaço típico da época, vem uma agenda repleta de compromissos em todas as esferas, digna de deixar qualquer um louco. Para piorar - pelo menos aqui no Rio de Janeiro - tudo isso ocorre em meio a um calor de 40 graus de temperatura!
Uma combinação não só perigosa para sua saúde física e mental, mas também para o seu bolso.
Afirmo isso porque não devemos baixar de forma alguma a guarda neste fim de ano.
Historicamente, o mês de dezembro tende a ser um mês calmo, com valorizações nas bolsas. Trata-se de um mês que normalmente se beneficia do arrefecimento das tensões vividas nos dois meses mais turbulentos do ano: setembro e outubro.
Contudo, vivemos em uma época relativamente nova, dominada por algoritmos que, ao suprimirem a volatilidade, contribuem para gerar uma percepção de risco de mercado que é equivocada.
Nos últimos 11 anos, apesar da constatação de uma contínua queda nos índices associados a volatilidade como o VIX, tivemos alguns eventos em que os mercados oscilaram de forma brusca e surpreendente como nunca visto antes.
Refiro-me aqui a movimentos como aquele visto no segundo semestre de 2007 e bem detalhado no livro The Quants de Scott Patterson. O que ocorreu ali foi uma espécie de prenúncio ao que ocorreria em maio de 2010 no que ficou conhecido nos mercados como Flash Crash.
Para quem acredita que os eventos a que me refiro foram pontuais, algo similar ocorreu em agosto de 2015.
Por aqui, tivemos o dia que ficou conhecido no mercado como "Joesley Day".
Em suma, há riscos obscuros que na maioria das vezes são ignorados pelos agentes.
E neste momento em particular, com o índice S&P 500 flertando com a mínima do ano, há uma chance, nada desprezível, de que esta passagem de ano possa ser reminiscente daquela vivida na passagem de 2015 para 2016.
Na ocasião, os mercados temendo os impactos associados a derrocada nos preços do barril de petróleo, viveram um certo pânico em janeiro de 2016 que culminou em uma desvalorização da moeda chinesa que ameaçou jogar o globo em uma recessão.
Como sabemos, tal calamidade foi revertida por meio de uma espécie de acordo entre os bancos centrais que atuaram de forma sincronizada reduzindo os juros de forma significativa. Em conjunto, o governo chinês, através de estímulos fiscais, fez com que o preço de diversas commodities metálicas disparassem.
Mas, e agora? Será que há munição entre os BCs para resgatar a economia em caso de uma derrocada nos mercados? Será que há espaço para o governo chinês embarcar em uma nova onda de estímulos fiscais em meio ao seu processo vigente de desalavancagem?
Estas perguntas são pertinentes pois os mercados demonstram alguns sinais de vulnerabilidade.
Na sexta-feira a ação da multinacional Johnson & Johnson despencou quase 10%, fazendo com que a empresa perdesse US$40 bilhões em valor de mercado em meio a divulgação de um problema que, para especialistas, deveria ter um impacto inferior a US$10 bi.
De forma análoga, as ações do Banco Goldman Sachs também vêm sofrendo em meio a uma aversão a risco considerada, por muitos, exagerada no que diz respeito a atuação do banco na Malásia.
Para finalizar, a mensagem que busco transmitir através deste texto é que não devemos nos iludir nem "amolecer" neste período natalino.
Hoje, a Gavekal nos diz que os esforços feitos pelo governo chinês para estabilizar a economia não tem gerado os resultados desejados. Por isso, é provável que mais estímulos estejam a caminho. O problema é que antes de melhorar, espera-se uma deterioração de curto prazo nos principais indicadores econômicos.
Além disso, a casa de pesquisa não deixa de reiterar suas preocupações com relação ao comportamento dos bancos europeus.
Seja qual for a origem dos problemas, é necessária uma solução para que possamos ver um maior fluxo de recursos externos direcionados as nossas empresas.
Marink Martins