Seguindo o fluxo

09/01/2019

Preciso confessar aqui um sentimento ambíguo com relação as máximas de mercado.

Odeio o fato delas nos aprisionarem. Mas, por um outro lado, seria tolice ignorar os valores embutidos em cada uma delas. 

E, em particular, refiro-me aqui a máxima: "contra fluxo não há argumentos!"

Nunca me esqueci da época em que o escândalo do mensalão veio a tona. Isso ocorreu ao longo do ano de 2005.

O Ibovespa vinha de forte valorização nos meses anteriores e eu, obcecado por um desejo de reversão à média, aproveitei a oportunidade para apostar contra o índice de forma agressiva. 

Embora o indicador bursátil tenha caído, sua queda provou-se uma excelente oportunidade de compra. Apesar das evidências que hoje se apresentam de forma clara incriminando diversos políticos, tal evento foi facilmente superado pela quantidade de recursos destinados aos mercados emergentes. Em alguns meses, o IBOV já registrava novas máximas.

Hoje, entretanto, vivemos uma situação um tanto diferente, quase inusitada. Temos um mercado que vem sendo impulsionado por gestores locais que veem uma interessante janela de oportunidade para que o país faça reformas estruturais que permitam a retomada de um crescimento razoável. 

Mesmo assim, tal cenário, como se apresenta, ainda não parece ser confortável o suficiente para atrair o capital especulativo estrangeiro.

Assim, após a recente valorização de aproximadamente 8% no IBOV, fica a pergunta se o melhor a se fazer é colocar uma parte dos lucros no bolso ou continuar apostando em uma alta mais expressiva do IBOV.

Todos sabem dos diversos riscos presentes nos mercados. (guerra comercial, paralisação do governo americano, atraso das reformas no Brasil, colapso no preço das commodities, etc).

Entenda aqui a palavra risco como probabilidade de que o comportamento de uma variável irá divergir do comportamento esperado.

Sendo assim, preocupações com relação a guerra comercial podem ter tanto um efeito negativo, como podem também surpreender positivamente. Há risco de queda, e há risco de alta. 

Dito isso tudo, vamos retornar a questão relacionada ao fluxo de recursos para mercados emergentes -- em particular, o Brasil. 

Você que acompanha o MyVOL já sabe que o índice MSCI Emerging Markets Index (EEM), com US$30 bilhões em ativos, está na iminência de elevar a participação dos ativos chineses em sua carteira. Observe, através da imagem abaixo, a alocação da carteira EEM por país.

Especula-se que a alocação associada a China poderá crescer dos atuais níveis de 30% para aproximadamente 50%.

Sem que haja novas entradas de recursos para o EEM, o mais provável é uma realocação estilo "rouba montinho" onde os demais países (incluindo aqui o Brasil) perdem espaço na carteira.

Devemos somar a esta análise o fato de que a recente apreciação dos ativos brasileiros fez com que o percentual alocado ao Brasil crescesse -- o que suscita a possibilidade de uma eventual pressão vendedora no sentido de um reenquadramento de carteira.

Por tudo isso, o investidor mais arisco, com foco no curto prazo, deve ficar atento a um eventual "pull-back" nos mercados. 

Desde a última sexta-feira, os mercados globais estão em festa, celebrando o retorno da PUT do FED. Em sua apresentação junto com Bernanke e Yellen, Jerome Powell se mostrou extremamente sensível ao sentimento dos mercados. Com isso, temos agora uma enorme discrepância entre o FED, que sinaliza com dois aumentos de 25bp na taxa do FED funds para 2019, e o mercado que trabalha com a manutenção da taxa. Alguém terá que ceder e, neste momento, parece estar mais para a equipe de Powell.

Será que o índice S&P 500 irá passar pelo "brigado" patamar de 2.580 pontos, sem enfrentar resistências?

Concluo aqui afirmando que eu acho que não. Acho que a recente retomada deve ter uma pausa a espera de dados mais convincentes; tanto no que diz respeito a guerra comercial, como no que diz respeito a reformas no Brasil.

Marink Martins

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