Só se fala no tal do "hiato do produto"! Que economês é esse?

22/01/2018

Olá, se você ainda não teve oportunidade de assistir ao documentário que foi ao ar na última sexta-feira, é só clicar no link abaixo. Ficou muito legal! Mais abaixo, segue o Comentário de Mercado desta segunda-feira.

Só se fala no tal do "hiato do produto"! Que economês é esse?

É um consenso entre os otimistas que o Brasil vive uma grande oportunidade. Parte deste otimismo advém da existência de uma notável capacidade ociosa na economia que permitirá que o país cresça seu PIB sem incorrer em pressões inflacionárias. A isso, dá-se o nome de "hiato do produto", que é a diferença entre o nível atual de crescimento e seu potencial não inflacionário.

O crescimento econômico brasileiro sempre enfrentou gargalos de todos os tipos, desde infraestrutura logística a limites na produção e transmissão de energia elétrica. Recentemente, fui conversar com o economista de uma famosa gestora de recursos do RJ a respeito de tais limitações. Fui lá pensando no atuais níveis de reservatórios de água que não se encontram em níveis tão confortáveis, e volta e meia somos surpreendidos por bandeiras tarifárias inconvenientes.

Fui informado que saímos da fase de El Niño, onde a temperatura do mar contribui para maiores secas nas áreas tropicais, para uma fase de La Niña, onde ocorre o oposto.

Sendo assim, muitos acreditam que estamos diante de uma zona de "cachinhos dourados", onde tudo pode e tende a dar certo.

Dito isso, afirmo que devemos encarar o mercado de hoje com cautela. Ao contrário de outras épocas na curta história da bolsa brasileira onde ativos negociavam com múltiplos relativamente baixos, o mercado globalizado de hoje, já precifica boa parte deste otimismo.

Compare as "Condições Iniciais" de 2003 com as atuais, e você verá que os preços de hoje são bem superiores em termos de múltiplos de lucros projetados. Tudo isso em um ambiente macroeconômico muito mais frágil.

É verdade que, do ponto de vista das contas externas, estamos muito mais resilientes. O dólar, no curto prazo, definitivamente não representa um risco para o país.

Contudo, a enorme crise que nos abalou entre 2014 e 2016 fez com que o ciclo econômico brasileiro perdesse sincronia com o "boom" externo. Estamos ensaiando uma recuperação justamente em um momento em que o otimismo externo parece entrar em fase parabólica, condizente com a proximidade de seu fim.

Não precisamos de muitos dados para ver sinais de bolhas ao redor do mundo. Além das crypto-moedas, há sinais preocupantes como os preços dos títulos soberanos europeus, os preço de imóveis em diversas cidades, e mais importante, os preços de ações globais. O mundo todo sabe que os mercados foram inundados pela liquidez gerada pelos bancos centrais. E se o banco central europeu resolver remover, mesmo que de forma cuidadosa, tais estímulos? Poucos discordariam que o fato de os títulos soberanos italianos renderem menos do que os títulos norte-americanos é, por si só, uma das grandes aberrações deste ciclo econômico.

Indo um pouco além, Louis Gave da Gavekal nos mostra que sinais inflacionários começam a se materializar, como podemos observar no gráfico abaixo.

Abaixo, índices de preços (CPI) nos EUA (1), na Alemanha (2), na China (3) e no Japão (4).

Para concluir, devemos sempre desconfiar de otimismo exacerbado. Lembrem que o Brasil adora decepcionar! Embora não tenhamos o risco cambial do passado, temos uma situação fiscal muito mais frágil.

Por tudo isso, muita calma nesta hora e CAVEAT EMPTOR, que é uma expressão em latim para TOME CUIDADO COMPRADOR!

Marink Martins,

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