Sobre a demanda por ouro

11/11/2019

Ao longo dos últimos doze meses o ouro, medido pelo ETF GLD, se apreciou 19% - rivalizando com o índice S&P 500 (+17%) e com o Ibovespa em reais (+23%). Seu ápice no período foi registrado no fim de agosto, um mês marcado por um receio de que a economia global entraria em recessão. Nos últimos dois meses, entretanto, a demanda pelo metal caiu provocando um recuo em seu preço. A discussão a respeito da demanda por ouro é uma das mais fascinantes hoje em dia, pois passa por premissas questionáveis.

Uma destas premissas está ligada a expectativa de que, diante da ameaça de um colapso no crescimento econômico global, os bancos centrais irão fazer o que for possível para estabilizar o mundo, resultando assim em algo que culminará em um processo inflacionário. É medo de uma maior inflação que gera demanda por ouro.

Dito isso, o que julgo ser curioso é o fato de que sinais correntes de que a economia vem crescendo em um ritmo saudável não são capazes de sustentar a demanda pelo metal. Eu arrisco a dizer que, caso a economia global mostrasse sinais fortes de retomada do crescimento, a demanda por ouro, ao invés de crescer, seria reduzida. Observe que esta colocação é, no mínimo, contraintuitiva. Afinal, durante anos, crescemos acostumados a ideia de que uma maior demanda agregada leva a uma maior pressão inflacionária através de aumentos salariais e outros custos.

Contudo, o que observamos hoje é justamente o contrário da situação descrita acima.

O preço do ouro continua a estar atrelado a expectativas inflacionárias. Porém, o catalisador da alta de preços deixou de ser a demanda agregada e passou a ser o receio de atitudes irresponsáveis dos tecnocratas dos bancos centrais.

Abordo este assunto justamente em um momento em que tanto o FED como o BCE reiniciam seus programas de recompras de títulos públicos. Os mercados - sejam eles de renda fixa ou renda variável - estão próximos as máximas, mesmo em um momento em que o espaço para maiores cortes de juros é limitado e a lucratividade das empresas americanas cai pelo terceiro trimestre consecutivo.

Os BCs até que tentaram se afastar e deixar os mercados andarem livremente. O resultado, entretanto, não foi satisfatório. Estamos novamente presos ao famoso Hotel California dos juros artificialmente baixos. Como dizia a música da Banda Eagles, um lugar onde os hóspedes simplesmente não conseguem sair por mais que tentem!

Marink Martins 

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