Sobre a eficácia do antibiótico monetário do FED e do PBoC

03/02/2020

Embora em uma magnitude completamente distinta, o grau de ansiedade visto neste fim de semana é análogo aquele visto diante da quebra do Banco Bear Stearns - uns 6 meses antes da grande crise financeira deixou cicatrizes pelo mundo em 2008.

Aqueles sintonizados no que hoje é conhecido como como "fintwit" (comentários no twitter sobre o mercado financeiro local) foram bombardeados com previsões catastróficas de uma abertura de mercado que, neste momento em que escrevo, parece super calma.

Estaria esta calma associada a intervenções das autoridades monetárias? Pode apostar que sim. Foi assim em 2008, e hoje tudo isso ocorre com mais frequência e maior intensidade. Sabe-se que o BC chinês está injetando bilhões de dólares de liquidez nos mercados. Paralelamente, estão coibindo a venda de ações a descoberto. Será que eles aprenderam a lição de 2015? Faço esta pergunta sem sarcasmo algum, mas, de fato, convidando o leitor a refletir a respeito do fato de que as intervenções feitas pelos chineses naquele período não obtiveram o sucesso desejado e foram alvo de inúmeras críticas ao redor do mundo.

Além dos esforços do PBoC (BC chinês), temos também o FED, o ECB e o BoJ com suas compras mensais que devem totalizar algo próximo a US$100 bi!

Será que este "antibiótico monetário" perde eficácia com a passagem do tempo?

Eu diria que sim, mas sua eficácia tende ter efeito por um bom tempo. Além disso, em se tratando de um ano de eleição, a injeção é ajustada a ponto de garantir sua eficácia. Uma prova disso é que até a Dilma Rouseff conseguiu tal êxito em 2014, ao empurrar os problemas para os anos subsequentes.

Caso a tese acima seja válida, o recente aumento visto na volatilidade implícita associada aos contratos de opções do S&P 500 e da Petrobras não deve ser o prenúncio de uma crise.

De acordo com o estrategista da Gavekal, Tan Kai Xian, os mercados podem até sofrer um pouco mais nos próximos dias. Entretanto, o analista diz que tudo isso irá se dissipar devido aos seguintes argumentos:

1. A chance de recessão nos EUA é pequena. O spread entre o ROIC das empresas e os respectivos custos de capital ainda é positivo.

2. Em breve veremos um crescimento na lucratividade das empresas americanas que irá justificar, pelo menos parcialmente, a expansão de múltiplo de P/L vista nos últimos meses.

3. As intervenções dos BCs tendem a reduzir o VOL nos mercados.

4. Menor ruído comercial global devido ao fato de que Trump necessita da estabilidade nos mercados para atingir seu principal objetivo que é se reeleger.

Bem, embora não compartilhe de todo o otimismo do jovem estrategista da Gavekal, devo reconhecer que seus argumentos tendem a vigorar. Eles, de fato, fazem parte de uma narrativa que vem se provando vitoriosa para os adeptos do "momentum investing" que se faz predominante nos dias de hoje.

Marink Martins

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