Sobre a possibilidade de descolamento entre o IBOV e o S&P 500

18/07/2019

Será que o IBOV consegue manter o seu ímpeto altista independente do comportamento das bolsas internacionais?

Essa pergunta sempre surge em momentos em que o Brasil tem uma janela de oportunidade aberta para fazer avanços e exercer o seu potencial. O problema é que o país é exímio na arte de dispensar oportunidades.

Indo direto ao ponto. A duas semanas da reunião do FED há alguns sinais divergentes na economia americana. Embora o consumo - motor da economia americana, representando +70% do PIB - pareça estar bem, outros setores, que historicamente são conhecidos como indicadores antecedentes, apontam em direção oposta.

Falo aqui da dinâmica atual afligindo o setor de transportes nos EUA. Ontem, após a divulgação de resultados, a empresa de transportes CSX caiu mais de 10% após decepcionar o mercado com o seu resultado. Isso impactou todo o setor. O gráfico abaixo, comparando o índice S&P 500 com o Dow Jones Transport Average, nos mostra a divergência a que me refiro. Isso ocorre também quando comparamos o índice S&P 500 com o índice Russell 2000 que engloba empresas de menor porte.

Em suma, o S&P 500 vem subindo de forma concentrada, impulsionado por grandes empresas como Microsoft, Amazon e outras. Ontem também, foi a vez da empresa Netflix decepcionar! Suas ações caíram mais de 10% após a divulgação de que a empresa está gastando muito dinheiro na geração de conteúdo sem obter o respectivo aumento no número de assinantes.

Mas e aí? Será que o IBOV consegue se descolar do resto do mundo em caso de uma deterioração nos mercados interacionais.

Não há como afirmar algo aqui que tenha de fato validade. Mesmo assim, é sempre válido atribuir probabilidades a eventos e ir ajustando tal probabilidade conforme novos acontecimentos vão ocorrendo. Além disso, a pergunta é feita como se eu tivesse certeza de uma deterioração lá fora. Não é o caso. Estou somente assumindo como premissa para a análise em questão.

Dito isso, não creio em um descolamento total, mas, no curto prazo, creio sim que qualquer queda deverá ser amenizada pelas perspectivas de crescimento no Brasil.

Do lado negativo, temos o tal "overhang" das vendas do BNDES que comentei ao longo da semana. Temos também alterações na carteira MSCI para mercados emergentes que privilegiam a China em comparação aos demais.

Já pelo lado positivo, temos uma rara sintonia entre o executivo e a câmera que poderá resultar em algo positivo. No curtíssimo prazo, os incentivos através da liberação de recursos do FGTS e PIS deverão contribuir para um maior otimismo de forma análoga ao que ocorreu durante um período de três meses no governo Temer. Dito isso, o mais importante pode vir lá de fora.

Falo aqui de uma eventual reprecificação da moeda americana. Já escrevi sobre isso e denominei tal possibilidade como um Acordo de Plaza Light. Caso o dólar venha a se desvalorizar, isso poderá ser benéfico para países emergentes como o Brasil.

Observe, entretanto, que uma valorização relativa do real retira também o ímpeto de valorização da bolsa.

Sendo assim, caso você seja um otimista com o atual momento brasileiro, opte por ter uma parte de sua aposta direcionada a uma valorização cambial.

Marink Martins

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