Sobre o aumento na taxa dos "treasuries"

24/02/2021
O principal tema afetando os mercados internacionais é o aumento no rendimento associado aos títulos do tesouro americano com prazo de 10 anos. Tal taxa já se aproxima de 1,5% e, com isso, provoca uma queda no preço dos títulos que, por consequência, leva consigo os ativos associados a "momentum".

Esse fenômeno pode ser visto no comportamento dos seguintes ETFs ao longo dos últimos 3 meses: TLT (Títulos do tesouro americano de longo prazo), MTUM (ações do índice S&P 500 que exibem elevado momentum) e o índice S&P 500.

Observe que, embora o índice S&P 500 esteja relativamente estável, o ETF MTUM (momentum) (linha amarela) começou a cair de forma significativa justamente no momento em que o outro ETF, o TLT (linha azul), intensificou sua queda. Conforme venho argumentando em meus textos, o movimento de rotação setorial de "growth" para "value" é o que vem sustentando o índice S&P 500. Dito de uma forma mais clara, a queda nas ações ligadas ao setor de tecnologia, vem sendo compensada pela alta nos setores de bancos e de energia.

Mas, como sabemos, os agentes estão sempre em busca de preocupações. O grande receio é que o movimento visto acima se intensifique e que possamos ver algo similar ao ocorrido no fim de março do ano passado. Na ocasião vimos uma espécie de "filme de terror" em que tudo caiu -- bolsa e renda fixa.

E é por isso que Jerome Powell não hesita em repetir que o FED permanecerá comprando, no mínimo, 120 bilhões de dólares por mês em títulos do tesouro e títulos hipotecários dos EUA até que a economia atinja pleno emprego e preços estáveis. Uma situação que talvez não ocorra nos próximos 5 anos.

Observe que durante a madrugada as ações asiáticas registraram perdas superiores a 1%. Na semana passada busquei chamar atenção ao fato de que a relação cambial entre o dólar americano e o iuane chinês -- relação essa que vem se mantendo estável entre 6,44 e 6,46 iuanes/dólar -- se apresenta como um indicador crucial neste momento de consolidação nos mercados.

Sendo assim, concluo reiterando aqui duas perguntas importantes para tentarmos detectar antecipadamente uma eventual deterioração dos mercados:

1. Se os preços dos ativos dos setores de energia e bancos pararem de subir, será que os preços do setor de tecnologia voltam a se recuperar e, assim, dar continuidade ao "bull market" global?

2. Será que com os "treasuries" registrando maiores rendimentos não veremos um recuo no valor do iuane relativo ao dólar?

Conforme escrevi na semana passada, uma desvalorização no iuane para níveis superiores a 6,50 iuane/dólar tende a deixar os agentes em modo RISK OFF (aversão a risco).

Marink Martins

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