Surfando o "momentum" positivo da bolsa

13/07/2020

Quem já teve oportunidade de surfar sabe que é muito comum concluir, após atravessar a arrebentação, que a série de ondas boas está quebrando a uns 50 metros ao lado. Além de um componente ligado a aleatoriedade, há também o fato de que o nosso posicionamento (observando de uma forma lateral) contribui para uma superestimação da qualidade da onda do vizinho, pois conseguimos ver a "parede surfável" de um ponto de vista privilegiado em relação aquele que está de frente para a onda que se quebra.

Esse é certamente um aspecto do surfe que traz semelhanças a aspectos da vida e do mercado.

Faço esta analogia, pois devo confessar que, nas últimas semanas, as "ondas boas" não estão vindo na minha direção. Sendo mais específico, refiro-me ao fato de que o segmento do varejo digital - que eu tanto critico por aqui - vem registrando ótimos retornos.

Aqueles que compraram ações da Via Varejo, da Magazine Luiza e da Lojas Americanas estão rindo como um jovem que acabou de pegar o seu primeiro tubo, mantendo aqui (e encerrando) a comparação do mercado com este esporte que eu tanto curto.

Curiosamente, esta boa performance ocorre apesar da presença de captações expressivas através de emissões de ações. A Via Varejo captou um pouco mais de R$4 bilhões e a Lojas Americanas deve captar mais que R$7 bilhões esta semana.

Historicamente, operações de "underwriting" representam drenos de liquidez e contribuem para uma performance subsequente negativa no que diz respeito ao comportamento do preço das ações das emissoras.

Contudo, parece que desta vez é diferente! Pelo menos quando o assunto é varejo digital, fintechs, e outros segmentos relacionados a "nova economia".

Na semana passada, a CVC anunciou uma subscrição de ações relevante (15% da capitalização de mercado) a um preço bem inferior ao preço de mercado e, mesmo assim, o preço de suas ações disparou.

É possível que esse comportamento tenha a ver com uma nova dinâmica vista na bolsa brasileira. Temos um elevado número de entrantes mais jovens e, também, um cenário de juros baixos sem precedentes na história do mercado de capitais brasileiro.

Apesar de reconhecer esta importante transformação que se faz presente no mercado local, me mantenho cauteloso diante não só dos riscos internacionais (eleição americana, tensões entre EUA e China, votação do "Recovery Fund" europeu, e outros), mas também do crescente desafio fiscal que teremos que enfrentar por aqui. Tudo indica que a regra do teto dos gastos terá que ser flexibilizada em 2021, 2022...

Marink Martins

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