Temas discutidos por Louis Gave

14/10/2021

Abaixo, compartilho algumas reflexões feitas por Louis Gave, fundador da Gavekal, em uma recente apresentação para investidores institucionais.

Será que a inflação atual, vista ao redor do mundo, é transitória?

Uma tese interessante é a de que a inflação atual está associada a diversos fatores, com destaque para os seguintes:

  1. Uma reversão do processo de globalização após a guerra comercial instaurada por Trump em 2018.
  2. A iminente transição energética focada em processos de descarbonização.
  3. Mudanças demográficas na China e processo de "suburbanização" nos EUA.

Louis sugere uma reflexão a respeito das seguintes perguntas:

  1. Quem estaria disposto a construir novas fábricas de semicondutores ciente de que a China entrará neste mercado de forma agressiva, buscando eliminar sua vulnerabilidade após os EUA terem praticamente aniquilado a expansão da empresa Huawei? (reversão da globalização)
  2. Quem estaria disposto a investir em novos poços de petróleo ciente de que o mundo caminha para uma economia sustentável, cada vez mais distante dos combustíveis fósseis?
  3. Como atrair mão-de-obra nos centros urbanos dos EUA, uma vez que muitos se deslocaram para os subúrbios, enquanto outros (os trabalhadores acima de 50 anos) optaram por se aposentar?

Uma conclusão é que estamos transitando de uma era marcada pela abundância para uma era da escassez.

Neste mundo, as carteiras de ações devem ter como foco empresas voltadas ao que o consumidor precisa ao invés de empresas voltadas ao que o consumidor deseja.

Uma outra questão endereçada pelo estrategista especula a respeito de que evento poderá contribuir para um choque desinflacionário que trará a inflação para níveis mais razoáveis.

Na China, apesar da desaceleração econômica vigente, não parece ser uma boa candidata. Por lá, o país persiste com a política de "Zero-Covid" e deverá mantê-la pelas seguintes razões:

  1. Prestígio do PCC no combate a Covid junto aos cidadãos chineses.
  2. Preparação para as olimpíadas de inverno.
  3. Plenário chinês em outubro de 2022 que deverá indicar Xi Jinping para um terceiro mandato.
  4. Seria vergonhoso para os líderes chineses se fosse provado a ineficácia de suas vacinas em comparação com as vacinas ocidentais.

Além disso, as empresas chinesas estão mudando sua forma de atuar, deixando de lado a velha cultura de crescer a qualquer custo. O choque regulatório fez com que os empresários passassem a entender que ter um tamanho menor passou a ser mais interessante.

Curiosamente, o estrategista argumenta que este processo é um em que o mais provável é vermos a China com um câmbio mais forte e com um uso mais eficiente de sua capacidade instalada. Este processo, em si, tende a contribuir para uma maior inflação global.

E se o processo de desinflação não vier da China, será que virá dos EUA? Da Europa? Neste momento, dentre os dois candidatos, o velho continente parece mais vulnerável. Todavia, não devemos ignorar a possibilidade de que o período inflacionário simplesmente persista por um período mais longo do que muitos estão prevendo. Isso, pelo menos inicialmente, não é algo negativo para os mercados. Tudo vai depender das respostas das autoridades monetárias.

Marink Martins

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