UBER in Trouble!
A UBER, a maior empresa americana de capital fechado, sofre adversidades ao implementar um modelo que se mostra insustentável. Paralelamente, outras duas empresas que foram recentemente ao mercado, SNAP e Blue Apron, registram quedas expressivas nos preços de suas ações quando comparados ao seus respectivos preços de IPO. Qual é a relevância destas informações no que tange os mercados? Vejo-as como um sinal de resiliência da economia americana, pois mesmo diante destes contratempos, seus principais índices de ações permanecem próximos as suas respectivas máximas.
Abaixo, mais detalhes sobre os problemas enfrentados pela UBER. O atual contratempo já vem impactando o mercado de leasing de veículos.
A UBER tem sido uma benção aos usuários! Seu sucesso inicial vem representando uma certa vingança ao péssimo serviço prestado por taxistas; em particular, aqueles que trabalham em aeroportos (alguém falou Santos Dumont???). Aos poucos, entretanto, começam a surgir sinais de que o atual modelo sendo implementado pela empresa não é sustentável. No triunvirato composto por empresa, motorista e clientes, somente o último anda feliz. Embora a UBER tenha recebido US$12 bi em diversas rodadas de financiamento, a empresa vem registrando mega prejuízos em sua operação; mesmo levando 25% da receita de cada corrida. Já os motoristas, quando considerado os custos como impostos e depreciação, acabam tendo que trabalhar quase 80 horas por semana para conseguir um salário razoável. Em termos de remuneração por hora de trabalho, o motorista da UBER ganha um pouco acima de um salário mínimo. Esta, pelo menos, parece ser a realidade do motorista de UBER nos Estados Unidos. A tabela abaixo, fornecida pelo motorista da foto, ilustra sua batalha diária. Para que o leitor possa compreender melhor a tabela, tomo como exemplo o primeiro dia (monday): receita bruta - US$365,72, comissão paga à UBER - US$91, lucro bruto - US$274, combustível - US$50, aluguel do carro e seguro - US$70, lucro líquido - US$154, horas trabalhadas - 14 horas, e ganho por hora - US$11,00.
Alguns críticos dizem que a realidade é ainda pior do que a descrita na tabela acima, de forma que a maioria dos motoristas não conseguem gerar um ganho real quando considerado todos os custos, inclusive o de depreciação dos veículos que muitas vezes é simplesmente ignorado. Já no lado corporativo, o fato da empresa estar passando por dificuldades chega a ser preocupante, pois parece não haver espaço para uma elevação no percentual cobrado dos motoristas. A empresa que já tivera um "valuation" de US$70 bi no mercado de balcão, agora parece valer menos de US$50 bi. Travis Kalanik, fundador afastado recentemente, continua a ser o maior acionista e se mostra determinado a voltar a empresa, mesmo que para isso, tenha que abalar sua estrutura. Em junho escrevi sobre este tema chamando atenção ao fato de que o "valuation" da UBER iniciava um declínio (ver abaixo).
Enviado no dia 26/6/2017Atenção "Momentum Investors", Stop-Loss acionado no mundo dos Unicórnios
Dá-se o nome de Unicórnio as "start-ups" avaliadas em mais de US$1 bi. Existe uma lista com aproximadamente 50 delas, e esta é encabeçada pela Uber que, até pouco tempo, tinha um "valuation" no mercado de balcão de aproximadamente US$68 bi. Tal "valuation", entretanto, está sob ataque. O ano de 2017 vem se provando ser desafiante para a empresa que vem sofrendo diversos ataques, tanto internos como externos. Recentemente, a empresa não só perdeu um de seus fundadores, Travis Kalanick, mas também executivos chaves no desenvolvimento de uma empresa que até hoje não provou ao mercado sua capacidade de gerar lucros. Em reportagem do "Zero Hedge", analistas traçam um paralelo entre o afastamento de Kalanick com eventos que provocaram a derrocada da "start up" de biotecnologia Theranos, fundada pela, uma vez aclamada, Elizabeth Holmes. A Theranos em seu ápice fora avaliada em US$9 bi, fazendo de Holmes uma bilionária de US$4,5 bi. Hoje, dizem que sua fortuna foi zerada! Naturalmente, devemos dar aqui um desconto a esta comparação tanto pelo sensacionalismo do "Zero Hedge" assim como pelo fato de que a Theranos cometeu fraude, algo que aparentemente não é o caso da Uber. Mesmo assim, a Uber que vem crescendo exponencialmente ao longo de nove rodadas de investimentos, pode estar enfrentando a maior de suas batalhas. Seu "valuation" atual, levando em conta tais acontecimentos, deve ter recuado, embora a falta de liquidez neste tipo de mercado possa mascarar a realidade. O fato é que embora a janela para IPOs nos EUA esteja aberta, a paciência de investidores com empresa não-lucrativas tende a ser limitada. No início de março ocorreu o IPO da Snap que, mesmo registrando enorme prejuízo, foi celebrado por entusiastas que pagaram um prêmio significativo quando comparado ao preço de IPO de US$17. O problema é que tal prêmio já desapareceu. Os céticos apontam para a tese de que a Facebook, a qualquer momento, poderá replicar seus produtos e destruí-la rapidamente. A Uber é bem maior do que a Snap. Mesmo assim, em um mercado dominado pelo acrônimo FANG (Facebook, Amazon, Netflix e Google), onde empresas do varejo tradicional estão sendo "Amazoned" (isso mesmo, Amazon já virou verbo), o entusiasmo pelas ações de alguns Unicórnios pode ser passageiro como a moda dos "fidget spinners".
Marink Martins, CNPI