Um breve comentário sobre Magazine Luiza e Qualicorp

31/08/2017

Há tempos venho me questionando, diante tantos comentários externos sobre o crescimento de vendas online, sobre quem seria a empresa brasileira que mais se beneficiaria desta nova tendência. Já se foram inúmeros sábados que, ao ouvir o podcast "Motley Fool Money", ouvia o analista Ron Gross elogiando a empresa Mercado Libre (MELI) (linha laranja no gráfico) afirmando que esta era uma boa aposta para investir em um segmento similar ao da Amazon, porém, com um "valuation" bem mais atrativo. A minha aposta sempre foi na B2W (linha vermelha). Aquele aumento de capital feito em 2014 no qual a gestora Tiger Global adquiriu um percentual da empresa pagando R$25, um nível bem acima do preço de mercado da ocasião, me deixou indagando sobre suas motivações. Quem acompanha o comportamento das ações da Amazon (linha verde) aprendeu que o mercado neste momento só quer saber mesmo é de "market share"; lucratividade fica para mais tarde, uma vez que a empresa esteja consolidada. Hoje, temos nos EUA 15% das vendas do varejo oriundas do segmento online, e a Amazon recebe cerca de 45 centavos de cada dólar vendido! Por esta razão, o pessoal do "Motley Fool Money" não cansava de enfatizar o potencial da empresa Mercado Libre. Seu último resultado frustrou alguns analistas devido a um "write off" de US$25m associado a perdas na Venezuela, mas o prognóstico continua favorável. Por aqui, a estrela é sem dúvida a empresa Magazine Luiza (linha azul). Esta semana o BTG Pactual elevou seu preço alvo para R$589,00!!! A empresa, tomando emprestado uma página do manual de instrução da Amazon, deu um "drible da vaca" no pessimismo e imediatismo de analistas, investiu em múltiplo canais de distribuição (Omnichannel), e já desponta como uma das favoritas a se beneficiar do efeito global conhecido como "O vencedor leva tudo" (The winner takes all effect). De acordo com o BTG Pactual, a empresa se beneficiou de um comportamento mais racional de seus concorrentes, permitindo assim uma bela recuperação de suas margens operacionais. Para quem acha que a ação já subiu demais, vale dar uma olhada na tabela abaixo preparada pelo BTG. A empresa hoje pode até parecer cara, mas o crescimento projetado de seu "net income" é fenomenal, fazendo com que seu P/L projetado para 2019 fique em 20.5x. Nada mal! De repente Magazine Luiza passou a ter a cara da Raia Drogasil (RADL3)!

Possível canetada na Qualicorp

Que a Qualicorp se beneficiou de uma medida do governo em 2009 criando a figura de Administradora de Benefícios não há a menor dúvida. A pergunta pertinente, entretanto, é aquela feita pelo próprio BTG Pactual: será que é justificável a margem de 20% do prêmio de seguros pagos pelos seus serviços? Na época em que eu atuava na área de Relações de Investimentos da Brasil Insurance Participações (BRIN3) sabia que quando o assunto era seguro de saúde, a corretagem média por tal serviço oscilava entre 6% e 8%. Sendo assim, a margem obtida pela Qualicorp para seus outros serviços, aqueles mais burocráticos e talvez, mais replicáveis, deve estar oscilando entre 12% e 14%. Certamente, pode-se argumentar que há muita gordura na mesa para ser atacada por concorrentes fortes e capitalizados do ramo da saúde. Por tudo isso, é possível que o movimento de queda iniciado ontem possa perdurar por mais alguns dias. Além disso, ninguém deve se esquecer da "espada de damôcles" associada ao risco político relacionado ao relacionamento de seu fundador com um ex-presidente já condenado.

Marink Martins, CNPI

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