Uma anarquia fiscal e monetária até quando?

26/05/2020

Não há dúvidas de que vivemos um período atípico que demanda medidas inusitadas para a preservação do bem-estar dos mais necessitados. Contudo, não devemos ignorar que, caso algumas das medidas implementadas não sejam revertidas, o país poderá caminhar para um processo de "argentinização".

Refiro-me especificamente a Emenda Constitucional 106 que ficou conhecida como "Orçamento de Guerra". Esta permite a monetização direta da dívida federal pelo Banco Central do Brasil. Isto é, o BC pode, não só comprar títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, mas pode também comprar títulos privados.

Curiosamente, o BC da Inglaterra fez algo similar ao emprestar meio trilhão de libras para que o governo inglês financie seus gastos com seu respectivo "orçamento de guerra". O FED, nos EUA, busca fazer algo similar de forma indireta, através dos bancos e de empresas de propósitos específicos.

No lado fiscal, os gastos associados aos estímulos aos trabalhadores informais, se mantidos, perpetuarão um rombo nas contas públicas capaz de interromper o enorme fluxo de investimentos diretos estrangeiros (IED) que vem compensando os nossos contínuos déficits em conta corrente.

Tudo isso está em jogo em um meio político vulnerável às pressões populares. Nos EUA temos um ano de eleição. Já por aqui, embora a eleição pareça distante, percebemos no vídeo da reunião ministerial revelada na semana passada que foi um tema preponderante.

Em meio a tudo isso, os mercados se valorizam refletindo uma onda de otimismo com a reabertura das economias que tende a ser curta.

O comportamento do mercado é análogo aquele visto no fim de 1999/início de 2000, onde a euforia com as ações abriu espaço para exuberâncias irracionais. Ou, quem sabe abril de 2008, quando mesmo com a quebra do Bear Stearns, os mercados subiram de forma aliviada, acreditando que o FED daria conta de tudo. Ou, quem sabe o início de 2018, quando a volatilidade atingia níveis extremamente baixos e a festa com os bitcoins vivia seu ápice.

Desta vez não é diferente. Os adultos, em breve, terão que parar a especulação para tomar decisões extremamente difíceis.

Marink Martins

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