Uma Regra de bolso

06/07/2017

Uma regra de bolso para se detectar excesso de confiança no mercado de ações 

Taxistas que atuam ao redor da bolsa de Chicago dizem ser muito fácil detectar se um "trader" teve um dia de ganhos ou de perdas. Quando ganham, "traders" são normalmente falantes, alegres, andam com o peito estufado e deixam boas gorjetas; exibindo, inconscientemente, seus elevados níveis de testosterona. Já quando perdem, quase não falam, preferem viajar sozinhos, e quase sempre, só pagam o necessário; retratando, inconscientemente, seus elevados níveis de cortisol. Para quem está de fora, é sempre mais fácil detectar mudanças no comportamento alheio. Michael Lewis, um dos mais celebrados escritores americanos, escreveu recentemente o livro The Undoing Project, no qual faz um mergulho no trabalho da Teoria da Perspectiva; teoria psicológica sobre tomada de decisões desenvolvida por Daniel Khaneman e Amos Tversky. Neste trabalho, Lewis nos chama atenção a um fato bem conhecido mas que, mesmo assim, vale sempre relembrar, pois sempre o esquecemos em momentos de euforia: quando estamos com "o vento a favor" nos mercados, tendemos a operar demais; muitas vezes, de forma compulsiva. Isso é um fato que é facilmente comprovado pelo o aumento do volume negociado nas bolsas em ciclos de alta. Como a maioria dos investidores estão sempre "comprados", quando a bolsa sobe, a maioria ganha e, consequentemente, gira muito mais. Daí, o aumento nos volumes registrados nestes ciclos. Dito isso, uma regra de bolso, ou heurística, é ter conhecimento constante tanto do tamanho de suas posições no mercado quanto do volume médio negociado por dia. Caso esteja com uma posição maior do que usual e esteja girando com maior frequência, fique atento, pois estes podem ser importantes sinais de que você esteja superestimando sua capacidade competitiva no mercado. Note que a B3 (antiga BM&F Bovespa) é uma das bolsas mais caras do mundo, com seus elevados emolumentos. Além disso, desde 2010 a bolsa brasileira vem sendo dominada pelo uso de algorítimos que executam ordens através de servidores em "co-location", de forma que, para nós mortais, só nos resta manter uma postura de humildade. Foi-se o tempo do "blefe" e do operador ágil que se distinguia por sua habilidade de fazer uma "borboleta" de forma rápida. Hoje, girar demais certamente leva a perdas!

Um outro conceito também relacionado ao excesso de giro, este discutido por Nassim Taleb em seu livro Antifragile, é o conceito de iatrogenia. Emprestado do mundo médico, refere-se a intervenções desnecessárias; uma das principais causas de óbitos no mundo. De forma similar, pelo simples fato de estar ocioso diante de diversas telas, "traders" fazem intervenções desnecessárias em suas operações, não só gerando maiores custos, mas também muitas vezes desconfigurando estratégias que precisam de tempo para atingir maturação. Não quero aqui, de forma alguma, argumentar que "traders" devam deixar uma operação deficitária de lado na esperança de um retorno a lucratividade. Muito pelo contrário. Operações deficitárias devem ser encerradas rapidamente. O problema, entretanto, é que muitas vezes encerramos operações lucrativas rapidamente, tanto por estarmos confiantes demais quanto pela iatrogenia descrita acima.

Marink Martins, CNPI

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