Uma teoria conspiratória para a guerra comercial sino-americana

17/10/2018

Bolsonaro ou Haddad, BREXIT, Trump ou Hillary, decisões do STF, não há dúvidas que os mercados se alimentam de um cenário reminiscente de uma batalha, de um FLAxFLU onde o vencedor celebra e o perdedor sai chorando.

Processos binários, em sua formação, permitem que investidores idealizem cenários econômicos associados aos possíveis resultados e tomem decisões de investimentos condizentes com suas expectativas.

No dia seguinte à eleição de primeiro turno das eleições presidenciais a B3 registrou um recorde de volume. É difícil se manter alheio a um evento binário!

Neste sentido, temos no horizonte a formação de mais um evento que poderá ou não polarizar os mercados.

Refiro-me a uma crescente expectativa por parte de alguns investidores de que Trump irá fechar um acordo comercial com Xi Jinping durante o encontro do G20 a ser realizado no dia 30/11 em Buenos Aires.

Embora tal evento não se configure como uma "final de copa do mundo" é possível vislumbrarmos um mercado mais polarizado em cima das possibilidades advindas deste encontro.

Naturalmente, não podemos esquecer que antes do G20 teremos definições no Brasil, no mid-term americano, e certamente outras que ainda não estão no radar.

Mesmo assim, considero válido explorar este tema em torno de um possível acordo sino-americano por volta do G20 por duas razões:

  • Em caso de um acordo, os mercados deverão reagir de forma extremamente positiva.
  • Pelo fato de que há indícios que tal acordo não irá acontecer e que seu impasse resultante deverá trazer repercussões globais negativas.

Observe que meu argumento aqui gira em torno de uma expectativa de que tal encontro do G20 vá, aos poucos, polarizando os mercados entre aqueles que acreditam em um acordo e os que preveem uma intensificação de uma guerra comercial que poderá jogar os EUA em uma recessão em algum momento de 2019.

Sendo mais objetivo, note que temos dois movimentos em curso que historicamente são letais aos mercados de ações: alta nos juros e alta no preço do petróleo. Ambos representam drenos de liquidez e tem poder de minar qualquer "bull-market".

E aqui, aproveito para compartilhar uma ideia um tanto conspiratória e fascinante: e se este movimento estiver sendo capitaneado por Xi Jinping como uma "estratégia de guerra" para minar os mercados e consequentemente enfraquecer o poder de barganha de Trump?

Observe que o "comprador marginal" ("marginal buyer"), aquele que exerce maior influência na formação de preço dos dois ativos em questão, é o chinês.

É possível (talvez não seja provável) que os chineses estejam, aos poucos, promovendo uma espécie de greve nos leilões de títulos públicos norte-americanos, contribuindo assim para elevação dos rendimentos associados aos US Treasuries.

Quanto ao petróleo, é provável que os chineses cumpram alegremente com a exigência americana e reduzam as importações de petróleo do Irã a partir do dia 6/11, data em que as sanções ao país entram em vigor.

Neste momento, o cético se pergunta: mas tudo isso não prejudicaria mais a economia chinesa do que a americana? Afinal, a bolsa chinesa já caiu mais de 20% desde o início das tensões e sua moeda se desvalorizou 9% da máxima registrada no início do ano!

Sim. Mas, para que essa teoria conspiratória faça algum sentido é necessário entrarmos fundo nas táticas de guerrilhas apresentadas no Livro Vermelho de Mao Tse Tung. De forma sucinta, trata-se aqui de uma estratégia alinhada para uma guerra de exaustão, onde uma das partes recua, aparentemente corta a própria carne, em busca da conquista de uma vitória no longo prazo. Boa parte do Politburo Chinês (comitê executivo) cresceu lendo tal livro.

Marink Martins

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