Varejo brasileiro - faz sentido se preocupar com o movimento da Amazon???

16/10/2017

Sem a menor dúvida, a resposta é SIM!!!

Aqui na MyCAP, onde temos um programa semanal sobre Tendências Globais, a Amazon é, sem dúvida, a empresa mais frequentemente mencionada, seja ela por seu programa de fidelidade, o Amazon Prime, ou sua interface de acesso domiciliar, o Echo. A empresa está à frente da competição e representa uma enorme fonte de disrupção.

Diante das expressivas quedas registradas na sexta-feira nos preços das ações de empresas varejistas como B2W, Magazine Luiza, Via Varejo e Mercado Libre, dediquei os últimos três dias a ouvir o recém-lançado "audiobook" "The Four", onde o autor e empresário Scott Galloway explora as características marcantes no DNA das quatro empresas que vem transformando a nossa forma de viver: Facebook, Google, Amazon e Apple.

Primeiramente, vale destacar que as ações das empresas mencionadas acima subiram de forma expressiva, jogando seus respectivos "valuations" para níveis, no mínimo, questionáveis. Vivemos um mercado eufórico, e grande parte desta euforia pode ser vista através do comportamento destas ações.

Tente dar sentido ao desempenho das ações da Magazine Luiza e investigue suas demonstrações de resultado. Você verá uma empresa que, de fato, vem crescendo suas vendas, em particular, através do seguimento on-line. O investidor otimista olha para o mercado varejista brasileiro e se depara com o fato de que somente 4% das vendas no país ocorreram por intermédio do e-commerce, e aí, este abraça a causa com todas as forças. Afinal, lá nos EUA, 40 centavos de cada US$1 vendido online vai para a Amazon. Por lá, o varejo online já é responsável por 15% das vendas totais.

A combinação de elevado otimismo com uma base acionária um tanto restrita (free float < 30%) contribuiu para uma mega valorização que levou suas ações a serem negociadas a um múltiplo de 40x o seu lucro projetado para 2018. Isso é insano? É possível que sim. Entretanto, só o tempo irá dizer.

Em tempos de euforia, muitos investidores esquecem a possibilidade de ocorrência de um evento chamado de "de-rating", ou compressão de múltiplos, onde, mesmo sem uma mudança significativa de rota, o mercado simplesmente passa a atribuir um múltiplo menor para os lucros projetados de tal empresa.

Mas, colocando a MGLU3 de lado, e focando na Amazon, Scott Galloway nos conta em seu livro como o mercado varejista norte-americano se transformou em um ambiente polarizado, onde a Amazon encontra-se de um lado, e o resto do varejo do outro. Para Galloway, não há dúvida quanto ao vencedor. Será a Amazon.

Lendo alguns comentários sobre o livro, notei que alguns leitores saíram com a impressão de que Galloway é um "hater". De fato ele é. Galloway é um mega empresário e, em um determinado momento, viu uma de suas empresas ser massacrada pelo fenômeno Amazon. O autor está longe de ser um observador distante. Ele tem "skin in the game", e fala com propriedade.

Ao falar da empresa, Galloway se diz impressionado com o talento de Jeff Bezos de comandar as expectativas do mercado. Nunca antes no mercado uma empresa conseguiu tamanha credibilidade registrando tão pouco lucro, em termos relativos. Quanto maior é o crescimento das vendas da Amazon, menor é o seu custo de capital. Até aí, trivial. O problema é que tal crescimento advém justamente da redução na fatia de mercado da concorrência, que, além de perder vendas, vê seu custo de capital aumentando. É o famoso efeito O VENCEDOR LEVA TUDO.

Nos EUA, 52% da população é assinante do programa Amazon Prime. Um quarto da população, antes de efetuar qualquer compra, checa as avaliações de outros consumidores através da Amazon.

A Amazon é muito mais do que uma varejista. Ela é um enorme Market Place. Ela é a líder de acesso a computação em nuvens via sua empresa Amazon Web Services (AWS) que já responde por metade de suas vendas.

Ao contrário dos bancos brasileiros (Itaú e Bradesco) que conseguiram muito bem proteger seus mercados da concorrência externa através de pesados investimentos, o varejo brasileiro pode ser facilmente engolido pela Amazon, pois, em um mercado onde o cliente está sempre certo, a vinda da gigante americana é muito bem vinda!

Marink Martins, CNPI

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