Virando a página referente ao 2T17 para o S&P 500

17/08/2017

Vivemos um momento de otimismo com a bolsa brasileira calcado em expectativas de cortes de juros e uma maior alocação de recursos para a renda variável. Para que este "vento" favorável persista, é necessário um cenário global calmo que propicie uma maior alocação de recursos para mercados emergentes. Dentre as preocupações de muitos analistas, estão os riscos geopolíticos e uma percepção de que os índices das bolsas norte-americanas estejam elevados demais. Quem acompanha os meus comentários, nota que, desde o dia 2/5/17, quando publiquei um Comentário e um Vídeo (Mudança de tom), passei a ter uma visão mais construtiva para o principal índice americano com base em cinco parâmetros que descrevo em tal publicação. De lá para cá, apesar da imensa volatilidade vivida na bolsa brasileira devido ao evento do dia 18/5 (JBS/Temer), muitas das premissas mencionadas na ocasião ainda estão válidas. Uma recente preocupação, entretanto, são as consequências do fim do apoio de empresários ao governo Trump, em resposta a sua postura diante dos eventos ocorridos no estado da Virgínia ao longo do último fim de semana. Tudo isso, assim como o embate do presidente com seu próprio partido, coloca em risco sua agenda que prevê cortes de impostos e repatriação dos recursos depositados nos caixas de empresas americanas em outros países. Tais medidas, em conjunto, tem o potencial de elevar o lucro por ação consolidado das empresas do S&P 500 em aproximadamente US$10; saindo de um lucro anual estimado para os últimos 12 meses de aproximadamente US$140, para um projetado que tende a partir de uma base de US$150 e agregar o crescimento anual de tais lucros. Diante deste tópico, aproveito para trazer ao leitor um resumo da lucratividade de tais empresas neste último trimestre. Com 90% das empresas de tal índice já tendo divulgado seus resultados, creio ser importante uma análise mais crítica para entendermos o dinamismo das principais empresas daquele país.

Abaixo, temos uma tabela ilustrando tanto o crescimento do lucro (primeira coluna) quanto o crescimento da receita (segunda coluna). O lucro consolidado cresceu 12% na comparação ano a ano, enquanto a receita cresceu 5.1% no mesmo período. Os números parecem saudáveis, apesar do já esperado impacto da recuperação da lucratividade do setor de energia. Vale lembrar que no segundo trimestre de 2016 o preço do petróleo estava na mínima; daí, tamanha recuperação neste trimestre de 2017. Muito importante, porém, é o crescimento agregado da receita, pois este indicador é certamente mais estável do que a lucratividade.

Como agentes de mercado estão sempre antecipando movimentos, é importante analisarmos o quão surpreendente foram tais resultados. Empresas como a Thomson Reuters, a FactSet e muitas outras, fazem justamente este acompanhamento. No gráfico abaixo, notamos uma certa consistência em termos de "surpresas positivas", tanto para a lucratividade (primeira coluna) quanto para a receita (segunda coluna).

Mais importante, entretanto, é avaliar como foi a reação do mercado diante de tais surpresas positivas. O gráfico abaixo, preparado pela FactSet, mostra justamente isso. O gráfico mostra o impacto no preço das ações utilizando uma média do preço da ação dois dias antes e dois dias depois da divulgação do resultado. O que notamos, é um certo "cansaço" do mercado. Embora tais resultados tenham sido bons, o mercado, de certa forma, já os aguardava, de forma que sua reação foi a mais tímida quando comparada ao comportamento trimestral dos últimos 6 anos. Seria isso um sinal de complacência? Vamos ter que aguardar um pouco mais de tempo. O fim de agosto e o início de setembro, marcam um período mais tenso nos mercados, de maior volatilidade. Crescem as chances de um eventual "pull back" no preço das ações.

Concluo esta análise, mostrando que ainda há razões para otimismo com a bolsa americana. Tanto o gráfico como a tabela abaixo, mostram que, olhando para frente, o índice S&P 500 está negociando com um índice Preço/Lucro projetado de 17,8x, algo que certamente é muito distante de ser classificado como "bolha", como muitos dos pessimistas vem afirmando.

Marink Martins, CNPI

www.myvol.com.br