Você já ouviu falar de um "Global Debt Jubilee"?

06/04/2018

Antes mesmo de explicar o que vem a ser tal expressão, já adianto que sou contra e que considero o evento de baixa probabilidade. Em tempos de leitura dinâmica tal colocação se faz necessária para evitar que leitores tirem conclusões precipitadas e erradas.

Um "Global Debt Jubilee" seria um perdão universal para dívidas consideradas impagáveis. A expressão se apoia em uma prática do velho testamento onde, a cada período de 50 anos, todas (ou algumas) dívidas eram perdoadas.

Mas, por que eu estaria abordando este assunto? Bem, pesquise no Google e verá que há um movimento crescente neste sentido. O gráfico abaixo, ilustra de forma clara o crescimento do endividamento do setor corporativo, dos indivíduos e dos governos. Os números são preocupantes.

Por mais apocalíptica tal questão possa parecer, seu uso ao longo da história é bem mais comum do que muitos pressupõem. De acordo com Carmen Reinhart e Ken Rogoff, do livro clássico "This Time is Different", durante o período entre 1932 e 1939 o montante de dívidas perdoadas foi equivalente a 19% do PIB das principais nações. E há exemplos como estes ao longo de toda a história.

Hoje, diante de uma crescente desigualdade global, cresce, no próprio EUA, um desejo de uma ampla restruturação de dívidas que incluiriam dívidas dos estudantes, de financiamento automotivo e outras. Não há dúvidas de que a situação financeira de muitos cidadãos caminha para um ponto de insustentabilidade.

E é justamente aí que eu gostaria de fazer um link desta tendência com as nossas preocupações locais e de curto prazo.

Vivemos em um país que permitiu uma enorme concentração bancária. Hoje, temos 3 grandes bancos privados e 2 grandes bancos públicos; todos extremamente rentáveis. Com aproximadamente 30% de peso no Ibovespa, podemos dizer que o desempenho futuro da bolsa brasileira guarda uma forte correlação com a performance do sistema bancário brasileiro.

Dito isso, acredito que há espaço para o seguinte questionamento: conseguirá o setor bancário brasileiro manter o mesmo ritmo de crescimento que aquele registrado nos últimos anos?

Embora a SELIC tenha caído de forma abrupta e surpreendente, os spreads bancários permanecem altos. Mas, por quanto tempo?

Vivemos um período de enorme desintermediação. A empresa Spotify acaba de listar suas ações através de um "direct listing", sem a presença de um banco de investimentos. As agências bancárias, que por muito tempo representaram uma enorme barreira de entrada no segmento, já não tem a mesma importância que no passado.

Com algumas empresas de tecnologia se aproximando de uma capitalização de mercado próxima a US$1 trilhão, não devemos nos surpreender com uma eventual invasão destas ao cobiçado setor bancário. Imagine a força deflacionária que tal evento representaria!

Por tudo isso, quando você ouvir "gurus" de mercado proclamando que o Ibovespa vai dobrar, triplicar, ou mesmo, quintuplicar, pense no quanto o setor financeiro terá que subir para justificar tais previsões. Como gosto sempre de dizer: Falar ainda é de graça!

Um bom fim de semana a todos,

Marink Martins

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