A busca pela antifragilidade

17/02/2019

Aqueles que fazem parte do Clube dos Ganhos Absolutos já sabem sobre o meu fascínio em traçar paralelos entre a física e os mercados.

Recentemente, embarquei em uma "viagem filosófica" onde disse que o preço de um determinado ativo deforma a sua curva de volatilidade de forma análoga ao que vemos através da teoria da relatividade geral de Einstein que descreve como um corpo pesado faz o mesmo com o espaço-tempo.

Se estou perdendo sua atenção aqui, por favor volte! Tenho uma mensagem importante e mais simples para passar.

Neste sentido, aproveito aqui outros dois paralelismos para discutir um assunto extremamente importante neste novo ciclo que vislumbro para os mercados a partir do fim do carnaval. Estou falando do conceito de antifragilidade em meio a um mercado que tende a se tornar mais volátil. 

O conceito de antifragilidade foi desenvolvido por Nassim Taleb e refere-se a capacidade de objetos se beneficiarem de um movimento disruptivo. Tal conceito se aplica a vida. Quando o trazemos para os mercados, pensamos no comportamento dos preços diante de uma elevação abrupta em sua volatilidade. Observem que o oposto de frágil não é resiliência ou robustez, mas sim algo em sentido oposto. Para descrever tal fenômeno, Taleb cunhou o nome antifrágil.

Os exemplos, mencionados aqui em inglês, exploram tal conceito:

Many analogies of such critical volatilities can be found in physics or in natural sciences, for instance:

(i) In physics: Water molecules have the same atomic structure at 101° Celcius and 99° Celsius. However, in transition from the former to the latter, their collective organization changes abruptly, from gas to liquid. A similar phenomenon happens when equity indices enter the tail risk territory: correlations spike, volatility jumps, expected return turns negative, and kurtosis (a measure of large shocks) explodes.

(ii) In natural sciences: Dinosaurs were large, dominant, well-adapted animals on planet Earth some 60 million years ago. They went extinct because of an environmental massive disruption, a likely asteroid impact in Mexico, and a subsequent unstoppable wall of fire that engulfed the entire planet. Dinosaurs were strong animals, which turned weak in times of stress: they were fragile. Small, agile and antifragile nocturnal mammals, which could burrow or go under water, survived and conquered the ecological niche left empty by the dinosaurs.

Resumindo... no primeiro o autor menciona que embora a estrutura atômica de uma molécula de água se mantenha a mesma entre 101ºc e 99ºc, sua organização muda de forma significativa, de gás para líquido. E aí, ele correlaciona tal mudança com as mudanças nos mercados quando o preço dos ativos começa a se comportar de forma errática; como é o caso do preço das ações da Vale nas últimas semanas.

Já no segundo ele ilustra como os dinossauros, embora gigantes, eram frágeis e sucumbiram diante do impacto de um asteroide no México...

Em síntese, quando há uma mudança no regime de volatilidade de um determinado ativo, o mundo se transforma.

Por trás do conceito de antifragilidade há uma necessidade de uma preparação a priori.

E é justamente por isso que me mantenho extremamente fiel aos principais parâmetros de risco inseridos na estratégia colocada em prática no Clube. Aqui me refiro a não-alavancagem e a nossa medida de antifragilidade; algo que, em uma recente apresentação, cunhei de "Dennis Rodman".

Vivemos em um mercado onde 98% das operações exibem um elevado grau de fragilidade. Posicionar-se de forma antifrágil é algo que, se não for feito de forma cuidadosa e bem estruturada, pode sair custoso. 

Por isso mesmo, tenho como objetivo na condução do Clube agir de forma estratégica, adquirindo seguros sempre que possível, sem que tal busca represente um dreno na rentabilidade do projeto.

Este texto aqui representa não só um convite para que você conheça o Clube dos Ganhos Absolutos mas também para que você reflita sobre este assunto. 

O que mais vemos por aí são doses cavalares de otimismo sendo ventilada pela mídia financeira. Poucos falam sobre o fato de que o grande experimento iniciado em 1971 com a moeda fiduciária - aquela sem lastro algum - pode estar diante de inusitados desafios. O que acontecerá é difícil prever, mas é provável que iremos conviver com mercados mais voláteis.

No gráfico abaixo, temos a relação entre retorno e volatilidade para as ações da Alphabet (Google) e da Apple. Observem como elas reagem de forma distinta em meio a "spikes" de volatilidade.

Aqui não se trata de ter um portfolio recheado de Calls e de Puts. A questão é estrutural. A Apple é bem mais rentável, porém exibe um elevado grau de fragilidade. 

Aqui no MyVOL não iremos fazer seguro contra asteroides, mas queremos fortalecer o nosso grau de imunidade em meio a possíveis contratempos.

Marink Martins


www.myvol.com.br