A chegada do vento sudoeste - "Wind of Change"

08/08/2023

O "sudoeste" chegou na orla do Rio de Janeiro anunciando que uma mudança na condição climática é iminente. Algo similar parece estar em curso no mercado de ações. Pois veja que, em um curto espaço de tempo, detectou-se uma súbita mudança de humor nos mercados. Há quem diga que o "touro" parou para descansar. Outros afirmam não ter visto "touro" algum... Brincadeira à parte, vale a pena dar destaque a alguns eventos:

1. Conclusão do ciclo de divulgação de resultados do 2T23 nos EUA: o ciclo já está praticamente completo e, como mencionei no último comentário, o sucesso visto na lucratividade das empresas teve mais a ver com cortes de custos do que com crescimento de vendas -- o que só contribui para o ceticismo de uma ala de investidores.

2. Gurus do mercado: Mike Wilson, estrategista do Morgan Stanley, capitulou há algumas semanas. Apesar de ter reconhecido seu erro, afirmou que a principal razão de toda a discrepância entre suas estimativas e a surpreendente performance do Nasdaq neste primeiro semestre foi o crescente déficit fiscal dos EUA registrado no período. Uma outra surpresa entre os "gurus" do mercado, foi o anúncio de aposentadoria feito ontem por Jeffrey Currie, estrategista de commodities do Goldman Sachs.

Enquanto Wilson foi surpreendido pela alta no mercado de ações, Currie sofreu com a queda no preço do petróleo. Movimentos de capitulação ou "abandono" por parte de "gurus" de mercado, historicamente, representaram uma espécie de "wind of change" nos mercados.

3. Inversão em indicadores econômicos: Há quem diga que o ciclo de redução da inflação nos EUA ficou para trás. Parece ter virado consenso de que os próximos "CPIs" norte-americanos devem mostrar inflação anualizada superior a 4%. Ontem, foram divulgados dados relacionados ao uso de crédito por parte dos consumidores americanos. O que se viu foi um recuo no uso de crédito rotativo associado a cartões de crédito. Em paralelo, foi divulgado na madrugada de hoje, na China, dados relacionados à corrente de comércio do país que indicam uma redução tanto nas exportações como nas importações.

Em suma, há indícios de que o apetite do consumidor norte-americano pode estar se moderando. E, considerando que o PIB dos EUA é 75% dependente do consumo das famílias, tal informação prova-se de extrema relevância.

Já no mercado, observa-se que o VIX, que andou abaixo de 14% por algumas semanas, já se aproxima dos 17%. Sabe-se que, nos últimos 5 anos, sua média foi de 20%. No entanto, convenhamos que os últimos anos foram bem diferentes do normal. Tivemos uma pandemia que provocou uma resposta fiscal sem precedentes que até hoje exerce forte influência na precificação de ativos.

É tempo de mudança. O mês de julho foi o mês mais quente da história no hemisfério norte! E 2024 tende a ser um dos anos mais quentes em termos de política -- diversos países importantes terão eleições presidenciais, com destaque para o "motor" do mundo onde a batalha poderá ter ramificações globais. Mas antes de tudo isso, teremos que enfrentar esta temporada mais volátil de fim de verão nos EUA e na Europa, em busca de uma acomodação deste ciclo que foi turbinado pela chegada do Chat GPT e de outras narrativas associadas a ganhos potenciais que virão com o uso da inteligência artificial.

Marink Martins

www.myvol.com.br