A estratégia contraintuitiva de Pin Van Vliet

27/09/2018

Acima, características que definem um mundo conhecido como "factor investing".


"Uma carteira composta de ações com baixa volatilidade historicamente supera uma de ações com alta volatilidade", Pin Van Vliet.

Imagino que você esteja tão incomodado quanto eu ao ler a afirmação acima. Afinal, diversos modelos de apreçamento de ativos associam uma maior volatilidade com um maior risco e - como aprendemos na escola e na vida - quanto maior for o risco, maior é a expectativa de retorno no longo prazo.

Bem, vivemos atualmente em um mundo dominado por análises quantitativas que cada vez mais nos mostram a superioridade de estratégias contraintuitivas.

A afirmação acima foi feita pelo gestor Pin Van Vliet, responsável por estratégias de alocação quantitativas da empresa holandesa Robeco. Vliet publicou um artigo em uma conhecida publicação no mundo das finanças cujo título era "The Volatility Effect" (O efeito da volatilidade). Neste, o autor afirma que o efeito da baixa volatilidade é uma das maiores anomalias do mercado, desafiando a premissa da relação entre risco e retorno, e concluindo que uma carteira composta por ações de alto risco historicamente apresenta retorno inferiores a uma composta por ações de baixo risco.

O autor vai além, e afirma que o famoso modelo de apreçamento ainda muito discutido nas universidades - o CAPM (capital asset pricing model) - apesar de apresentar uma bela narrativa, é falho ao descrever a realidade.

Para você que é fã de tudo relacionado as finanças comportamentais tal afirmação pode até soar como música, pois as razões que apoiam a tese de Vliet certamente habitam o campo da irracionalidade.

O curioso é que são cada vez mais frequentes revelações desta natureza.

Vliet afirma que investidores tendem a pagar caro por ações mais voláteis. Embora o autor defenda bem sua tese através de dados históricos, não é interessante aqui entediar nossos leitores com dados extremamente técnicos.

O que podemos extrair desta revelação é que devemos ser cautelosos diante de obviedades apresentadas no mercado.

Nos últimos anos tivemos uma explosão de fundos cujos gestores estão dedicados ao que é conhecido como "factor investing" - estratégias baseadas em fatores que podem explicar as diferenças nos retornos em ações. Dentre os fatores, o que mais me fascina está relacionado a "momentum" que é uma tendência de que algo que está dando certo tende a continuar dando certo.

Atualmente, sou responsável pela gestão da carteira internacional Global Pass através da Inversa Publicações onde 75% dos recursos são alocados com base nesta estratégia de "momentum".

Assim, finalizo este texto alertando sobre a importância de entendermos algumas características associadas aos ativos em nossas carteiras. Não basta pensarmos a respeito de suas perspectivas. Devemos incorporar dados quantitativos como a volatilidade implícita de seus contratos de opções assim como uma medida associada a "momentum".

Esta combinação de baixa volatilidade e alto momentum é uma que está cada vez mais em voga!

Marink Martins

www.myvol.com.br