A grande questão do momento

17/06/2020

Confesso que desde que assinei o RealVision as minhas noites ficaram mais curtas. São inúmeros vídeos e comentários de altíssima qualidade que prendem minha atenção até a madrugada. Junto a isso estou em uma busca ferrenha tentando entender para onde vai o dólar.

Não me refiro aqui a relação dólar/real, mas sim o comportamento da moeda americana contra uma cesta de moedas tomando como base dados associados a relações comerciais entre os países em questão. Estou falando do que é conhecido, em inglês, como "trade weighted dollar index".

A razão por essa obsessão está ligada ao fato de que, historicamente, o fluxo destinado a mercados emergentes esteve fortemente correlacionado aos ciclos de alta e baixa do dólar. O gráfico abaixo ilustra muito bem este fenômeno. 

O gráfico acima, preparado pela equipe Macro Intelligence Partners, denomina os períodos em que o dólar americano esteve forte como períodos de "US exceptionalism". Durante estes períodos, em termos relativos, as ações americanas registraram uma performance superior à de seus pares. Observamos isso através da linha branca que ilustra a relação entre o índice MSCI das ações americanas versus o índice MSCI para as ações globais excluindo as americanas. A linha verde ilustra o tal dólar descrito no início do texto.

E por que colocar tanta ênfase na moeda americana? Não devemos esquecer que o dólar é a reserva de valor global, responsável por mais de 80% da corrente de comercio global. Sendo assim, o resto do mundo tende a se endividar em dólares.

Um dólar forte está associado a uma escassez de dólares que tende a impactar negativamente a performance de empresas globais. Um dólar fraco já representa um vento de cauda para as empresas globais, contribuindo para uma forte valorização das commodities e dos mercados emergentes.

Neste momento o time daqueles que clamam por um dólar mais fraco nos próximos anos está repleto de estrelas. Louis Gave, Stephen Roach, Jim Rogers e muitos outros, acreditam que a trajetória da moeda americana deve ser uma de enfraquecimento.

Raoul Pal, Brent Johnson e outros já acham que há espaço para mais uma pernada de valorização no dólar devido ao fato de que muitas empresas globais ainda permanecem endividadas em dólares.

A relevância deste debate reside no fato de que transições entre um dólar mais forte e um mais fraco, conforme vistas no gráfico, tendem a vir acompanhadas de choques nos mercados.

Em 2002 vivíamos o colapso das empresas de tecnologia. Já em 2011 vivíamos o "downgrade" da dívida americana feito pela empresa de rating S&P. Será que a tal turbulência associada a esse movimento de transição já ocorreu e os mercados emergentes estão livres para voar?

Isso é uma possibilidade. Contudo, não devemos esquecer que nestes momentos de transição, o setor que lidera o ciclo de valorização nos EUA normalmente perde força. Neste sentido, ainda não observamos sinais de que o setor de tecnologia dos EUA esteja sendo abalado. Muito pelo contrário. Apple, Microsoft, Amazon, Google e outras estão "fine & dandy" (caminhando muito bem)!!!

Marink Martins

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