Entramos em uma fase divergente no que diz respeito ao
comportamento do Ibovespa vis-a-vis o comportamento do S&P 500.
O primeiro perdeu seu ímpeto devido as incertezas em torno das
eleições presidenciais e a divulgação de indicadores relativamente fracos de
retomada da economia brasileira. Já o segundo parece ganhar força à medida que
as empresas americanas divulgam seus melhores resultados trimestrais de todos
os tempos.
Vivemos nos EUA um período de "peak-earnings"; isto é, um
período onde o crescimento na lucratividade tende a atingir seu ápice.
Estima-se que o crescimento do lucro por ação das empresas que integram o
índice será de 19% em 2018, caindo para 10% em 2019. Tal expectativa vem
contribuindo para um cenário mais estável mesmo diante de incertezas políticas
relacionadas a guerra comercial com a China e uma maior possibilidade de
intervenção regulatória em empresas de mídia como a Facebook e a Google.
Enquanto isso, no Brasil o sentimento já é mais sombrio. Após
um começo de ano de elevada empolgação - entraram US$7 bi oriundos de capital
estrangeiro na B3 - os agentes estão acordando para a dura realidade do cenário
político-econômico brasileiro. Aos poucos nota-se que o ajuste fiscal de curto
prazo é 100% dependente de receitas não-recorrentes e que a retomada da
economia nada mais é do que uma retomada cíclica, ou, como os americanos gostam
de chamar, um "dead-cat bounce". E o pior é que as perspectivas de elegermos um
líder que tenha força para promover as reformas necessários em 2019 parece remota.
Diante disso, há o perigo no Brasil de uma reversão de
expectativas que poderá fazer com que investidores institucionais e pessoas
físicas, frustrados com o fraco desempenho econômico, resolvam reduzir suas
exposições a bolsa, e com isso contribuam para um movimento de queda ainda mais
expressivo.
Marink Martins