A húbris americana

16/04/2024

A húbris ou hybris é um conceito grego que pode ser traduzido como "tudo que passa da medida; descomedimento" e que atualmente alude a uma confiança excessiva, um orgulho exagerado, presunção, arrogância ou insolência, que com frequência termina sendo punida.

Os americanos já gastam como se estivessem em uma guerra mesmo antes de entrar oficialmente em uma das guerras vigentes. Talvez a única guerra que importe ao governo Biden seja aquela marcada para ocorrer em novembro deste ano nas urnas de 7 estados considerados "swing states" (Arizona, Nevada, Georgia, Carolina do Norte, Pensilvânia, Wisconsin e Michigan).

Há quem diga que o mundo mudou no dia 7 de outubro de 2023 -- data do ataque conduzido pelo grupo terrorista Hamas. De lá para cá os preços relativos do ouro e do bitcoin começaram uma escalada. Tais valorizações se iniciaram antes mesmo que o S&P 500 fizesse um "fundo" no fim de outubro. Hoje, sabe-se que uma das razões para o movimento generalizado de valorização dos ativos teve a ver com uma expressiva melhora nos índices que refletem as condições de liquidez nos mercados ("FCI - Financial Conditions Index).

A combinação de um mercado mais líquido unido a poderosa narrativa de uma revolução tecnológica associada ao uso da inteligência artificial fez com que o S&P 500 registrasse uma performance bem superior à registrada em boa parte do mundo (a exceção foi vista nas ações japonesas). Ontem, uma reportagem publicada no Wall Street Journal celebrou o tal "excepcionalismo norte-americano" ao mencionar que os EUA provocam inveja ao resto do mundo!

Nada melhor do que o pecado da desmedida (húbris) para frear um "bull market"! Há sinais claros de excesso nas bolsas dos EUA. A Tesla, por exemplo, anunciou demissões expressivas e suas ações já caem mais de 50% da máxima registrada no período pós-pandêmico. A Apple perdeu o posto de maior vendedora de "smartphones" para a Samsung. Tudo isso em meio a um TLT (ETF associado a "treasuries" de prazos longos) que voltou a negociar abaixo de 90 dólares -- patamar registrado em dez/23, quando o SPX estava por volta de 4.800 pontos.

Enquanto isso, por aqui há sinais de exaustão na queda do índice Ibovespa. Ontem às ações cíclicas domésticas voltaram a apanhar como se estivessem em 2015. Todavia, o Ibovespa se segurou bem devido a força vista nas commodities.

Para finalizar, reitero que uma das variáveis mais importantes do momento permanece sendo o valor da moeda japonesa em relação ao dólar. O povo japonês é um dos maiores poupadores do mundo com recursos espalhados mundo afora. Não me surpreenderia se descobrisse que o estresse visto nos contratos DIs mais longos (em particular, na manhã de ontem) tivessem a ver com algum "desmonte" de posições envolvendo investidores institucionais japoneses. Neste momento, não tenho evidência que aponte para isso, mas é notório que as taxas locais já embutem prêmios elevadíssimos.

Marink Martins


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