A manipulação dos "Mãos Fortes" nos contratos futuros do IBOV

22/01/2021

Entenda os incentivos e tudo ficará mais claro. Não sei dizer quantas vezes já ouvi esse tipo de conselho. O podcast Freakonomics - um dos meus favoritos - se faz justamente através desta premissa.

Um índice de ações cuja composição é feita através da capitalização de mercado dos seus componentes não é um índice "democrático". E não é para ser. Uma empresa com maior valor de mercado atrai mais recursos e, consequentemente, deve ter um maior peso no índice.

Por mais trivial que isso possa parecer, no passado a história era diferente. O Ibovespa, por exemplo, obedecia a uma composição que favorecia o fator liquidez em detrimento ao fator valor de mercado. Isso gerava diversas distorções.

O formato contemporâneo, embora superior, não se isenta das manipulações dos "mãos fortes" do mercado. Perceba que, por manipulação, não quero, de forma alguma, sugerir atos ilícitos. O que busco argumentar aqui são manobras que fazem parte da dinâmica dos mercados.

Assim como ocorrera em um passado distante com ações da Lightpar e OGX - que passaram a exibir uma maior contribuição na precificação do IBOV - hoje existe um pequeno grupo que, por diversas razões fundamentalistas e técnicas - alcançaram um papel de forte influência no principal indicador bursátil brasileiro. Podemos citar aqui WEG, MGLU e Notredame como exemplos.

Ainda que neste comentário eu não queira sugerir que a operação envolvendo a fusão da Notredame com a Hapvida tenha algum aspecto manipulativo, sabe-se o quanto tal fusão contribuiu para alçar o IBOV para níveis próximos de 125.000 pontos.

Mais importante, é o comportamento - muitas vezes contra-cíclico - visto na precificação da WEG e da MGLU. É possível que, em alguns casos, o preço destes papéis esteja sendo manipulado com o objetivo de balizar o IBOV? Bem, isso faz parte deste jogo e ocorre não só aqui, mas em todos os mercados ao redor do globo.

Quando iniciei minha carreira, na área de tesouraria do Banco Bozano, Simonsen, o banco conquistou o primeiro lugar do ranking da bolsa em negociação. Era uma época em que a bolsa sofria forte influência das ações da Telebras. Mesmo assim, o grande "game" da bolsa sempre esteve - e ainda está - nos contratos futuros do IBOV.

No curto prazo - em uma janela de dois meses - os componentes do índice são meras ferramentas em um jogo extremamente sofisticado que tem o contrato futuro do IBOV como protagonista.

Tenha um ótimo fim de semana,

Marink Martins

www.myvol.com.br