A Petrobras seguindo o caminho da Vale

26/04/2019

Saiu no Valor Econômico hoje, em matéria publicada pelo jornalista André Ramalho:

"Ontem os acionistas da Petrobras aprovaram uma reforma no estatuto social da empresa que permitirá à estatal vender as suas subsidiárias sem a necessidade do aval da assembleia. Com a mudança, a privatização das controladas passa a depender da aprovação somente do conselho de administração, dando agilidade ao processo."

Já mencionei aqui que durante os anos entre 2015 e 2017 tive a oportunidade, representando a Corretora MyCAP, de promover diversos encontros entre o Roberto Castello Branco, atual presidente da Petrobras, e investidores institucionais domésticos.

Ao ler o comentário acima, penso como o Roberto parece estar de fato aproveitando o ambiente reformista presente no país para acelerar reformas necessárias ao crescimento da companhia.

Observe que o executivo passou anos atuando na área de relações com investidores da Vale. Roberto foi o criador do Vale DAY - um modelo de interação com investidores estrangeiros que foi posteriormente imitado por diversas empresas brasileiras.

Ao falar sobre as perspectivas para Vale - foco das primeiras reuniões que organizei com o executivo - ele enfatizava o esforço de Murilo Ferreira (CEO da empresa) em retornar as operações da mineradora para sua área de expertise. Anos de preços elevados no minério fizeram com que a Vale perdesse o foco e se tornasse uma empresa bem menos eficiente. A gestão do já falecido Roger Agnelli foi marcada por excessos e idealizações transformacionais que muito contribuíram para um processo de "de-rating" nas ações da empresa.

Na Petrobras o processo não foi muito diferente. A vinda do Pré-Sal e a síndrome de vira-lata brasileira contribuíram para uma destruição de valor inimaginável para aqueles que sonhavam ver o Brasil como um membro da OPEP.

Hoje, Roberto Castello Branco, uma espécie de discípulo de Murillo Ferreira, busca fazer com a Petrobras justamente o que foi feito com a Vale - trazê-la de volta ao seu "core business" que é exploração e produção. O poder de se desfazer de ativos sem a necessidade de aval de assembleias de acionistas é o catalisador que faltava para que o processo transformacional transcorra de forma rápida e eficiente. É possível que a Petrobras, em um prazo de 3 anos, seja uma outra empresa, tendo a exploração do pré-sal como foco de forma análoga ao que a Vale fez com seu projeto S11D.

E aqui, cabe a seguinte pergunta: será que é possível vislumbrar um processo de reorganização societária na Petrobras que culmine em uma unificação entre ações ON e PN, com a empresa entrando no Novo Mercado da B3 de forma análoga ao que foi feito na Vale?

Antes que você rejeite esta possibilidade de bate-pronto, alegando perda de controle da União, pense que essa seria uma privatização honrosa, sem a necessidade de venda de ações. Para um executivo com a história de vida de Castello Branco, isso seria um sonho!!!

Carla Albano, executiva de RI da Vale que tanto trabalhou com Roberto por lá, e que esteve a frente de todo o processo de unificação das ações da Vale, acaba de integrar o time de RI da Petrobras.

E, para complementar, há indícios de uma eventual escassez de petróleo a partir de 2021. Eu falo um pouco sobre esse cenário no MyCAP Tendências Globais desta semana. Veja abaixo "A New Oil Order":


Marink Martins

www.myvol.com.br