A tirania dos "benchmarks"

31/07/2018

Nesta segunda-feira o índice S&P 500 caiu 0,58%, uma variação percentual dentro da normalidade. Mesmo assim, para aqueles sintonizados na mídia internacional, a impressão era de que algo muito mais grave estivesse ocorrendo.

Pudera! As ações "queridinhas" estavam caindo forte. Olhe para tabela acima, e verá nomes reconhecidos globalmente, como Amazon, Microsoft, Apple, Visa, Boeing, Mastercard, JP Morgan e outras. O que há em comum com as empresas desta lista?

Bem, uma série de atributos: valor de mercado, valor da marca, grau de atuação global, e muitos outros. Mas, para efeito de mercado e deste texto que aqui escrevo, a razão pela qual elas estão agrupadas nesta lista, é o fato delas representarem o top 10 do índice de "momentum" de um índice de referência (em inglês, "benchmark) da MSCI.

Você provavelmente já conhece a empresa MSCI como uma grande estruturadora de diversos índices de mercado. O próprio EWZ, tão conhecido dos brasileiros, é um fundo de índice (ETF) administrado pela maior empresa de gestão passiva do mundo, a BlackRock.

Bem, assim como o EWZ reflete uma uma carteira que consiste de ações brasileiras, o MTUM reflete uma carteira que consiste de ações que exibem um elevado "momentum" medido com base nas respectivas variações de preço de seus componentes em um período de 6 a 12 meses.

E o que é "momentum"? É um termo oriundo da física que, quando trazido para o ambiente de mercado, denota uma tendência de que algo que está dando certo continuará a manter a sua trajetória. De forma análoga, algo que está dando errado tenderá a fazer o mesmo.

O que observamos nos últimos dias nos EUA é que desde as quedas nos preços das ações do Facebook, Twitter e Netflix, as tais "queridinhas" começaram a decepcionar. Hoje, em particular, tais ações, em conjunto, registraram uma queda de aproximadamente 1,8%, quase 3x a queda do índice S&P 500. Mas, por que isso?

Bem, diante da queda expressiva registrada pelas ações da Facebook, o ETF MTUM acabou caindo, e tal processo, acabou desencadeando um movimento mais intenso de venda. Afinal, o conceito de "momentum" é justamente esse: sobe intensamente, e cai da mesma forma. 

Por tudo isso, não importa muito o fato de que a Microsoft veio com um excelente resultado nos últimos dias. Suas ações acabam sofrendo devido a este efeito de indexação.

Em síntese a mensagem que busco transmitir é a seguinte: Em momentos de adversidade, seja este em um país, ou em um setor específico, as correlações entre os preços de seus componentes tendem a subir bastante. Em casos extremos, como aquele visto há 10 anos na crise de 2008, as correlações setoriais se aproximaram de seu nível máximo, 1. 

Marink Martins


Os últimos dois anos foram sensacionais para o investidor focado em ações de empresas norte-americanas. Abaixo, temos um gráfico de "Trailing Real Returns" do S&P 500 desde 1960. Este gráfico nos mostra o retorno real do índice em janelas de 2 anos.

Ainda que o momento atual não seja, nem de perto, um associado a uma crise financeira clássica, os últimos eventos deixaram muitos investidores "machucados". Afinal, no último mês tivemos 3 eventos que historicamente foram catalisadores para fortes valorizações das ações brasileiras. Refiro-me aos seguintes eventos:

Venho argumentando que, por trás do "rally" visto no preço das ações chinesas, há, dentre muitos fatores, um associado à rivalidade entre a China e a Índia. Explorei este tema em maiores detalhes neste vídeo que você pode acessar clicando aqui.

www.myvol.com.br