Ainda no modo CAVEAT EMPTOR - BUYER BEWARE - CUIDADO COMPRADOR

25/06/2018

Parece haver um consenso entre estrategistas de que uma elevação no preço do petróleo representa um freio na economia global. Alguns estimam que uma alta de US$10 no preço do barril equivale a aproximadamente US$100 bilhões em transferência de renda oriunda de países consumidores para aqueles produtores da commodity.

Aonde não há consenso, naturalmente, diz respeito a tendência a ser seguida pelo preço nos próximos meses.

Salvo que o mundo não entre em uma recessão como aquela vista em 2008, a demanda por petróleo deverá crescer neste ano em 1.5 milhões de barris/dia, levando o consumo total para a faixa de 100 milhões de barris/dia.

Na última semana, países membros da OPEP junto com a Rússia decidiram aumentar a produção da commodity em uma quantidade que representa a metade desta demanda adicional. A notícia desta decisão provocou uma alta expressiva no preço do petróleo nos últimos dias devido à incerteza a respeito da origem da outra metade da produção necessária para manter o mercado em equilíbrio.

Mais importante aos mercados de capitais, é que tudo isso ocorre em um momento de apreciação expressiva e surpreendente da moeda norte-americana.

Sabe-se que a combinação de um dólar forte com preços de petróleo ascendentes é uma receita certa para provocar uma disrupção em economias emergentes. E isso é algo que já pode ser observado ao redor do mundo.

No gráfico abaixo, temos um índice onde o numerador é a variação nos ativos do banco central americano (o FED) e o denominador é o preço do petróleo. Como podemos observar, quando tal índice atinge uma queda de aproximadamente 25%, historicamente tal evento foi sucedido por uma recessão nos EUA (faixa cinzenta). O importante aqui é que vivemos em um momento de aperto monetário do FED impactando o numerador, e possível aumento no preço do petróleo impactando o denominador. Tal combinação tem o poder representar um importante freio ao crescimento da economia global.

Vivemos hoje em um mundo bem mais conectado do que aquele visto no período pré-crise de 2008. Por isso mesmo, ao detectar um cenário de aversão a risco em diversas partes do mundo, é algo preocupante.

Neste primeiro instante, especula-se a respeito de uma realocação global de recursos oriundos de países emergentes para os EUA. Isso, além de beneficiar a moeda americana, vem também promovendo uma valorização em ações de empresas de médio porte nos EUA, como visto na mais recente valorização do índice Russell 2000.

Entretanto, é possível que esta recente intensificação das tensões comerciais entre China e EUA contribua para um cenário de aversão a risco no próprio EUA. Caso isso aconteça, o dinheiro irá fluir de ativos de riscos diretamente para a segurança dos títulos norte-americanos, em um cenário que certamente será doloroso aos emergentes.

Olhando para história, vale ressaltar que a grande queda na bolsa americana há aproximadamente 30 anos ("Black Monday") foi precedida por um movimento de aversão a risco iniciado na Ásia. De forma análoga, tivemos também a crise asiática nos anos 90 que para os países latino americanos foi extremamente severa.

Neste sentido, é importante monitorarmos como a China irá reagir ao crescente movimento protecionista norte-americano. Sabe-se que uma forçada desvalorização de 10% na moeda chinesa seria capaz de anular, em uma única "canetada", grande parte das medidas protecionistas de Trump. Por um outro lado, os chineses estariam abrindo uma caixa de pandora que, no curto prazo, poderia jogar o mundo definitivamente em um cenário de "RISK OFF".

Por tudo isso, é importante calma nesta hora. Você vai ouvir que as ações no Brasil estão baratas, negociando abaixo do P/L médio histórico. Vai ouvir que os fundos estão sub-alocados. Vai ouvir que os preços representam uma grande oportunidade de investimento de longo prazo.

CALMA! O movimento de saída de estrangeiros deixou os locais comprados. O que manda nas bolsas é o movimento de compra marginal. Acho eu que o comprador, neste momento, tem o luxo de poder ser mais paciente e esperar por preços ainda melhores. Por isso, reitero a mensagem que venho propagando ao longo do ano: CAVEAT EMPTOR - BUYER BEWARE -CUIDADO COMPRADOR.

Marink Martins

Que os governos estão gastando muito mais do que deveriam não é uma novidade para ninguém. Entretanto, o que muitos não observam é que este fenômeno -- predominante no Brasil -- vem ocorrendo em uma intensidade maior em países desenvolvidos como os EUA, Japão e os europeus.

A húbris ou hybris é um conceito grego que pode ser traduzido como "tudo que passa da medida; descomedimento" e que atualmente alude a uma confiança excessiva, um orgulho exagerado, presunção, arrogância ou insolência, que com frequência termina sendo punida.

A mídia financeira não para de fazer alarde no que diz respeito à falta de apetite dos investidores estrangeiros. Foi publicado ontem no Valor Econômico:

www.myvol.com.br