Ainda sobre a estratégia "Buy & Hold"

10/01/2018

Na última semana de 2017 mencionei em um Comentário: "Tem muita gente iniciando no mercado financeiro lendo livros escritos há 50 anos. Embora alguns livros sejam atemporais; outros não são! Não é porque funcionou para o Warren Buffet que irá funcionar para você! Disse isso como um alerta para os fãs da estratégia Buy & Hold, pois vejo poucos refletindo sobre uma das principais causas por trás da valorização nas ações durante a segunda metade do século passado: o intenso crescimento populacional.

Sem o ímpeto deste crescimento, investidores terão que ser bem mais seletivos em um mercado cada vez mais competitivo. E por falar em competição, um dos livros atemporais talvez seja o Vantagem Competitiva do professor e autor Michael Porter. Este certamente era um dos livros mais celebrados na época em que eu fazia faculdade.

Embora sua obra não seja frequentemente mencionada por participantes do mercado, o mercado de ações é certamente um terreno fértil para as ideias do autor. Em um mercado competitivo devemos estar sempre cientes do tempo e do espaço que ocupamos, ajustando a nossa estratégia de acordo com qualquer vantagem que possamos usufruir.

No caso do Buy & Hold, simplesmente dizer que o segredo é investir em empresas boas e com um foco de longo prazo, chega a ser um cliché que, de forma ingênua, pressupõe que a tarefa de identificar tais empresas seja trivial e que possa ser feito por qualquer um através de uma simples leitura do Valor Econômico. Não é bem assim. Existem times dedicados a isso 24/7. Quando matérias dedicadas a uma determinada empresa são publicadas em revistas e jornais, é provável que suas ações já tenham se valorizado e que estejam negociando a múltiplos elevados.

Não faz muito tempo que as queridinhas do mercado eram a BBSE3 e a CIEL3. Mas, assim como a estagnação do crescimento populacional é uma nova tendência global, o endividamento dos governos passa a ser um outro fator de vulnerabilidade aos mercados. E é justamente por isso que uma eventual "canetada" dos governos passa a ser um risco adicional que faz com que a atividade de seleção de ativos seja ainda mais difícil.

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É possível que a própria premissa de que o preço de entrada do ativo pouco importa seja um vício resultante de um período em que boa parte da alta fora baseada em um mercado consumidor que só fazia crescer. Neste novo mundo, sem crescimento populacional, investidores deverão ser criteriosos e atribuir um maior peso as condições iniciais de investimentos. Afinal, em um mercado competitivo, montar uma carteira com ações cujos preços negociam a um P/L projetado superior a 25x, poderá representar um longo período de underperformance.

Dito isso, não desejo aqui insinuar que a estratégia de Buy & Hold esteja morta. Muito pelo contrário. Por sua própria definição, a estratégia traz consigo vantagens competitivas importantes como um baixíssimo custo de intermediação, e mais importante, o efeito da passagem do tempo (o "Hold"). A parte que diz respeito a escolha do ativo (o "Buy"), este sim, além de exigir formas mais criteriosas, deve ser implementada em conjunto com a diversificação que dizem ser o único almoço grátis disponível nos mercados.

Para finalizar, saiba que existem outras alternativas de investimentos. Na estratégia Barbell, por exemplo, investidores alocam 80% de seus recursos em ativos de baixíssimo risco e 20% em ativos bem arriscados. Pense no seguinte: se você tem o tempo a seu favor, por que selecionar ativos de baixa volatilidade? São os ativos de alta volatilidade que fazem desta estratégia um caminho interessante. Entretanto, conviver com a volatilidade não é trivial; requer sabedoria e um certo distanciamento das vicissitudes do mercado.

Marink Martins, CNPI

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