Além da mancha vermelha
Não há dúvida de que a primeira hora do pregão desta quarta-feira será marcada por uma queda expressiva no preço das ações da Petrobras. Não há dúvida de que a intervenção direta do presidente Lula em uma empresa de capital misto transmite um péssimo sinal no que diz respeito ao tema governança corporativa no Brasil.
No entanto, permita-me fazer algumas argumentações que, nesta manhã, tem uma elevada chance de serem interpretadas como uma visão "panglossiana" ("otimista demais"). Vamos lá:
1. Magda Chambriard será recebida com o mesmo pessimismo que Jean Paul Prates herdou ao assumir a Petrobras em janeiro de 2023. O impacto negativo (merecido) será um reflexo de algo que, com o tempo, o mercado parece esquecer: o risco de intervenções políticas em estatais. Entenda que a volatilidade implícita embutida nos contratos de opções da Petrobras estava na faixa de 25% na tarde de ontem (bem abaixo da média histórica).
2. Sobre as intervenções políticas em estatais: isso não é de hoje. O preço das ações da Petrobras sofreu bastante como consequência da saída de Pedro Parente em 2018 (após a greve dos caminhoneiros). Algo similar ocorreu em meio a saída de Roberto Castello Branco em 2021. De lá para cá, houve uma tremenda instabilidade no comando da empresa. Mesmo assim, apesar da liderança de um ex-político (JP Prates), o preço da ação disparou, refletindo sua imensa lucratividade.
3. Há um "rally" em curso no resto do mundo: você já viu o preço do cobre? E o preço das ações dos bancos europeus? E o preço das "small caps" europeias?
4. Entre investidores globais, começa-se a discutir, de forma mais intensa, a necessidade de uma maior diversificação internacional. A imagem abaixo anda circulando entre as mesas e provocando muita discussão quanto ao quesito alocação global. Há quem especule que o excepcionalismo norte-americano poderá abrir espaço para que ativos de outros países se destaquem. Veja o que ocorreu em décadas anteriores:
O avô de RCN dizia que o Brasil não perde uma oportunidade de perder uma oportunidade. Os eventos dos últimos dias -- divergência entre membros do COPOM e intervenção direta de Lula na Petrobras -- provavelmente terão um impacto acumulado de algo próximo a 5% em termos de performance do Ibovespa. No curto prazo isso certamente dói bastante e pode até representar meses de prejuízo para alguns "traders".
Todavia, em um horizonte mais longo, tais decisões deverão representar um COPOM mais acomodativo e uma Petrobras mais alavancada -- eventos que contribuem para um maior crescimento nominal do PIB. A questão é: como responderá a taxa de câmbio USD/BRL?
Até o momento, este representa para mim um importante enigma: por que será que a taxa de câmbio USD/BRL se mantém relativamente estável em meio às "atrocidades" petistas? Será que é porque tais "atrocidades" já estariam parcialmente precificadas pelo mercado?
Concluo sugerindo que o investidor se mantenha calmo e paciente. Hoje será um dia complexo, com diversas forças atuando ao mesmo tempo.
Marink Martins