Anomalias de mercado

12/03/2024

Dizem que ganhar dinheiro NUNCA é fácil. No entanto, aquele que comprou o S&P 500 na mínima registrada no dia 9/mar/2009, obteve um retorno anual de 16,67% por 15 anos. Isto quer dizer que aquele que "comprou e carregou" obteve um retorno de 10x o seu capital inicial em um prazo de 15 anos. Pense nisso... um "bull market" que fez com que o cidadão comum se sentisse como um Warren Buffet.

Está certo que o cidadão comum normalmente não compra na mínima do mercado. Ele também não carrega uma carteira de ações por 15 anos. Está certo também que o retorno anual registrado por Warren Buffet nos mais de 50 anos de carreira é superior a 20% ao ano. Dito isso, você há de concordar que quem comprou ações do S&P 500 entre 2009 e 2012 e carregou até agora, mandou muito bem. Está com o nível de testosterona elevadíssimo.

Veja abaixo os retornos anuais registrados para "Stocks" (ações), "Bonds" (renda fixa de prazo > 10 anos), "Cash" (renda fixa de curto prazo) e Gold (ouro) ao longo dos últimos 95 anos nos EUA.

Sendo assim, este "sortudo" que comprou e carregou as ações nos últimos 15 anos obteve um retorno que foi 70% superior a média histórica obtida em um período de forte crescimento populacional nos EUA!

Além disso, os dólares obtidos com o investimento estão super apreciados, permitindo que o cidadão comum viaje e ache tudo barato ao redor do mundo. Assim, os americanos se divertem como se estivessem em uma festa sem fim.

Sabe-se que boa parte desta apreciação nos ativos ocorreu em função de uma expansão de múltiplo de P/L. Sabe-se também que tais múltiplos eventualmente revertem a média histórica. Isto ocorre, pois o múltiplo de P/L dialoga com o custo do capital em uma determinada economia -- o que na economia americana pode ser observado através da taxa dos "treasuries" de 10 anos.

A taxa dos treasuries de 10 anos chegou a registrar uma mínima de 0,35% ao ano durante o período de tensão nos mercados na época da pandemia. Já a máxima nos últimos anos ocorreu no ano passado quando tal taxa se aproximou de 5,00% ao ano. Atualmente, ela está em 4,10%. O P/L projetado do S&P 500 está em 21x.

Como se tudo isso não bastasse, temos nos EUA e na Europa um mercado concentrado, com um pequeno número de empresas registrando valorizações expressivas. Enquanto a economia americana cresce, a europeia se arrasta. A economia alemã enfrenta um enorme desafio, pois os chineses resolveram se concentrar justamente na parte industrial -- área que até hoje sempre foi o ganha-pão dos alemães.

Muito se fala a respeito da Nvidia. Todavia, existem outras aberrações no mercado. Uma que me chama bastante atenção é o comportamento das ações da Ferrari. Nos últimos 8 anos, o preço de suas ações se valorizou a um ritmo de quase 31% ao ano -- um salto de 8x no período. A empresa hoje tem uma capitalização de mercado de 78 bilhões dólares que é 20x a sua receita. Seu P/L é de 54,3x. Em contrapartida, a Ford registra uma receita que é 45x superior a da Ferrari com um lucro registrado nos últimos 12 meses que é 5,2x superior ao da montadora italiana. Mesmo assim, o valor de mercado da Ford é de somente 48 bilhões de dólares, ou 62% do valor de mercado da Ferrari.

Nem sempre foi assim. O gráfico abaixo nos mostra que essa busca insana por ações de marcas conhecidas e admiradas é um fenômeno que se intensificou a partir do ano passado. Abaixo temos o preço das ações da Ford em comparação com a da Ferrari (linha verde), a da francesa Louis-Vuitton Moet Hennessy (linha azul) e da Hermes (linha laranja).

Especialistas dizem que o excesso de liquidez provocado por políticas fiscais expansionistas -- tanto nos EUA como na Europa -- vem contribuindo para que investidores globais se concentrem em nomes com forte reconhecimento internacional. E uma vez que um determinado grupo de ações começa a se valorizar, a turma focada no atributo "momentum" vem e faz o trabalho final de transformar o ciclo de alta em algo com características exponenciais.

Marink Martins

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