Aparentemente disfuncionalidade

06/12/2021

Ao ser humano é sempre difícil conviver com mudanças em regimes de volatilidade. Tais mudanças tendem a ocorrer em nossas vidas por diversas razões. Às vezes elas ocorrem devido à perda de um membro da família, de um divórcio, da perda de um emprego, e de outras mazelas que fazem parte do que chamamos vida. Aqui, felizmente me restrinjo a falar sobre uma recente mudança de regime de volatilidade associada aos mercados; algo que, embora seja passageiro, pode fazer mal às suas finanças caso você se apavore e não se adeque ao que está em curso.

O fato é que a volatilidade associada ao principal índice de variável global (o S&P 500) dobrou, saltando de 15% para 30%. Há quem diga que o VIX caminha para 36% ou 44%; patamares que representam 2 e 3 desvios-padrão da média histórica do indicador. Neste processo, observamos uma aparente disfuncionalidade nos mercados, com ativos considerados de "longa duração" sofrendo bastante. A grande novidade deste fim de semana foi o "mini-crash" do Bitcoin e de outras criptomoedas.

Penso que esta mudança de regime de volatilidade, embora cíclica, é também resultante de esforços associados à tentativa de reverter a queda na popularidade do presidente Biden. O presidente dos EUA, pressionado pela crescente inflação no país, indicou Powell para mais um mandato e tomou medidas para conter a escalada do preço do petróleo, dentre outras medidas. O "chairman" do FED está agora em uma posição mais segura para voltar a se preocupar com aquilo que, historicamente, sempre foi a principal preocupação da autoridade monetária: manter a estabilidade dos preços dos bens e dos serviços na economia americana.

E, neste sentido, Powell não hesitou. Cogitou um "tapering" (remoção dos estímulos econômicos) mais acelerado, abrindo espaço para uma maior flexibilização de sua política monetária. Os mercados reagiram negativamente e continuam pressionados.

A boa notícia, entretanto, é que em meio a toda esta confusão vista nos mercados, há uma percepção de que os ativos de mercados emergentes tendem a registrar uma melhor performance caso a política monetária americana se mantenha "atrás da curva"; isto é, caso a taxa de juros real se mantenha em níveis negativos. E, neste sentido, os tão depreciados ativos brasileiros começam a chamar atenção do mundo. Na semana passada, busquei transmitir esta mensagem aqui ao escrever textos com os títulos "O IBOV é o índice da virada!" e o "O dia da virada dos Cíclicos".

Por tudo isso, insisto neste "call" de "outperformance" brasileiro em relação ao S&P 500. Entenda que "outperformance" é um conceito relativo. É possível que os preços caiam em caso de uma queda acentuada nos preços dos ativos americanos e/ou uma intensificação dos problemas vistos no mercado imobiliário chinês.

Marink Martins

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