Aperto monetário nos EUA -- "update"

10/07/2023

Nas últimas semanas muito se falou a respeito de uma iminente redução da liquidez no mercado americano. A base da argumentação residia na expectativa de enormes captações de recursos via emissão de títulos por parte do Tesouro dos EUA. Afinal, a instituição consumiu todo o seu caixa nas semanas que antecederam as negociações envolvendo o teto do endividamento do país.

De fato, o Tesouro dos EUA captou mais de 500 bilhões de dólares através da emissão de "treasuries" e, para surpresa de muitos analistas, o mercado de ações ainda mostra sinais de resiliência. Está certo que na renda fixa, observa-se uma importante elevação na taxa de juros de títulos de prazos mais longos -- a taxa dos títulos de prazos de 10 anos voltou a superar o patamar de 4%.

Dito isso, o que especialistas que sigo andam falando é que boa parte dos recursos captados vieram dos fundos de money markets ao invés de uma redução das reservas bancárias dos bancos. Esta diferenciação é importante, pois especulou-se que, caso as captações do Tesouro reduzissem de forma significativa as reservas bancárias, o FED seria forçado a interromper seu processo de aperto monetário ("QT") de forma antecipada. Não foi isso que aconteceu e agora estima-se que o FED continuará a promover seu QT até o fim deste ano.

Assim, conforme busquei ilustrar nos Comentários da última sexta-feira, a liquidez dos mercados vai sendo "drenada" aos poucos. Fica a seguinte pergunta: até quando o mercado de ações americano irá se comportar de forma a ignorar a elevação no custo de oportunidade resultante deste aperto monetário em curso?

Acredito eu que, dado o posicionamento dos agentes -- e aqui, refiro-me ao fato de que ainda há um excesso de pessimismo em relação ao comportamento da economia americana e seu provável impacto no mercado de ações -- é provável que o mercado venha a dar uma maior atenção aos resultados corporativos do segundo trimestre antes de "capitular" em meio a tal aperto associado a elevação no custo do dinheiro na economia.

E neste sentido, a equipe de pesquisa da Datatrek -- debruçada no último relatório divulgado pela empresa FactSet -- nos diz que é bem provável que os resultados do segundo trimestre deverão surpreender positivamente. Nos EUA é comum que empresas ofereçam uma prévia dos resultados. No gráfico abaixo, as barras vermelhas ilustram surpresas negativas enquanto as barras verdes apontam para surpresas positivas. Observe como, em termos relativos, há uma melhora nesta relação em se tratando do segundo trimestre de 2023.

Marink Martins

www.myvol.com.br