Após a intervenção, a busca por proteção!

16/04/2019

A fala de Paulo Guedes afirmando que uma decisão na área econômica do governo, mesmo que equivocada, poderia ser revertida com uma simples conversa, me fez pensar na parábola da tábua e dos pregos. Refiro-me àquela que, de forma sucinta, diz que, embora você possa retirar os pregos, as marcas deixadas são permanentes.

Engana-se aquele que pensa que a questão central gira em torno do aumento ou não do preço do diesel. Trata-se de uma questão de confiança.

Entre uma empresa cujas ações negociam com um múltiplo de 30x seu lucro projetado e uma outra cujo múltiplo é de somente 10x, há, além dos números, uma elevada diferença no nível de confiança atribuído pelo mercado aos seus gestores.

Neste episódio que resultou em uma queda de 8,5% no preço das ações da Petrobras na última sexta-feira paira a dúvida a respeito da correlação entre o preço do petróleo e o preço de suas ações.

O investidor - principalmente o estrangeiro - deseja estar em um ativo no setor petrolífero que seja positivamente correlacionado com o preço do petróleo. A perda de correlação ocorrida durante a gestão de Gabrielli/Foster (governo de Dilma Rousseff) foi algo apavorante ao investidor estrangeiro e acendeu a luz vermelha por elevar a probabilidade de que um processo destrutivo, análogo aquele visto no passado, possa ser instaurado novamente na empresa brasileira.

Curiosamente, todo este episódio ocorreu justamente no dia em que a Chevron anunciou a compra da Anadarko Petroleum, oferecendo assim uma clara oportunidade de realocação de recursos para aqueles dedicados ao setor.

Ao analisar as consequências do estrago intervencionista feito pelo governo Bolsonaro gostaria de destacar duas observações que terão impacto no comportamento do mercado para os próximos dias.

A primeira diz respeito ao fato de que a queda no preço das ações da Petrobras não só contribuiu para a queda no IBOV mas também para elevar a volatilidade implícita associada aos contratos de opções atrelados ao principal índice de renda variável brasileiro.

Você que vem acompanhando os meus textos deve lembrar que, na semana passada, escrevi a respeito de um conceito denominado volatilidade crítica. Neste afirmei que estudos históricos apontam para uma observação que diz que quando o nível de volatilidade do IBOV supera um patamar próximo a 22%, o retorno registrado pelo índice nas semanas subsequentes tende a ser negativo. Tal observação toma como base os estudos de antifragilidade preparados por analistas da Gavekal Intelligence.

Pois é, a volatilidade subiu! E, se medida pela volatilidade associada aos contratos de curto prazo, esta já supera ligeiramente tal patamar de 22%. Mais preocupante, porém, diz respeito ao ocorrido com a volatilidade implícita dos contratos mais longos.

Em particular, destaco aqui a minha segunda observação resultante deste estrago intervencionista do governo Bolsonaro.

Ontem, a Empiricus Research, sugeriu aos assinantes de seu produto Palavra do Estrategista, assinado por seu fundador - Felipe Miranda - que buscassem por proteção para uma eventual queda no IBOV através de uma estrutura de opções associada ao ETF BOVA11.

Esta sugestão atraiu um elevado número de participantes - aproximadamente 1.000 pessoas - que compraram uma trava com opções de venda de BOVA11 para o mês de agosto de 2019. Detalhe: tal operação foi concretizada com uma volatilidade implícita na faixa de 26%, que representa um patamar bem acima da volatilidade crítica de 22% descrita no trabalho preparado pela Gavekal.

O volume financeiro negociado ficou próximo a dois milhões de reais. Isso, tratando-se de prêmios pagos por proteção não é algo desprezível.

O resumo da ópera é que por mais que Paulo Guedes busque reverter uma decisão tomada por seu patrão, o estrago é, de certa forma, irremediável.

Para aqueles que são fãs da teoria de multiversos/universos paralelos, a cada decisão que tomamos, um novo universo é criado. Essa é uma boa analogia, não só para a vida, mas também para os mercados.

Marink Martins 

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