Aprendendo com Paul Volcker

29/06/2020

Venho ouvindo o audiobook "Keeping At It" que é a biografia do Paul Volcker, que foi presidente do FED durante um dos períodos mais desafiadores da instituição - o período inflacionário do início dos anos 80.

Confesso ainda não ter terminado, mas há algo na narrativa que me chamou muito a atenção. Refiro-me ao fato de que os problemas que levaram os EUA a abandonar o padrão ouro em agosto de 1971 eram problemas que não só já mostravam sua face desde o início da década anterior, mas eram bem discutidos internamente entre os membros do governo.

O fato é que o governo não só protelou, mas tentou evitar ter que dar uma solução ao problema, até o ponto em que a situação se tornasse insustentável.

Abordo este tema pois vivemos em uma época em que há quem pense que tudo que emana do FED e do Tesouro Nacional é bem pensado, é bem planejado. Não é. Há muitas iniciativas que seguem o processo de tentativa e erro. Além disso, há inúmeras discussões internas que, em grande parte, não chegam ao público. Sendo assim, o potencial para que o público seja surpreendido por medidas heterodoxas cresce de forma significativa em momentos desafiadores.

Na semana passada - semana em que foi divulgado o teste de estresse dos bancos americanos - a representante do FED, Lael Brainard, veio a público condenar a atitude da instituição que, embora tenha colocado um limite na distribuição de dividendos dos bancos, ainda assim, permitiu sua existência. Na opinião da representante, a situação atual requer medidas mais duras que impossibilitam os bancos de fazer qualquer distribuição aos seus acionistas.

Em suma, vivemos um momento peculiar e, assim como no início dos anos 70, voltamos a refletir a respeito do valor do dólar frente ao ouro. Voltamos a pensar em processos inflacionários. Bem, são inúmeros os paralelos e acho que a performance das ações americanas nos anos que estão por vir tende a ser muito parecida com aquela registrada ao longo da década de 70.

Marink Martins

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