Atento aos padrões

12/01/2022

No mercado de capitais ocorre algo digno de deixar qualquer professor de estatística de cabelo em pé. Neste mundo, se um determinado padrão é confirmado por mais de 3 observações, este se torna um forte candidato a se transformar em regra. E se isso ocorre, não é devido a ingenuidade de seus participantes, mas sim devido ao "desespero" de muitos em se "agarrar" em alguma crença em um mundo que é fortemente afetado por forças aleatórias.

Pensando justamente nisso, compartilho o gráfico acima ilustrando o histórico do IPCA durante os anos subsequentes ao início do Plano Real. Praticamente saltando aos nossos olhos, temos 4 períodos em que o tal índice registrou um patamar de dois dígitos. Em cada um desses anos, tivemos eventos marcantes; em alguns, diversos eventos.

O ano de 1995 foi um ano duro, marcado pela luta para desindexar a economia. A crise mexicana, no fim daquele ano, jogou a precificação dos ativos brasileiros no chão. Já o ano de 2002 foi marcado pela chegada da esquerda ao poder. Ali, o fator cambial não só jogou a inflação para cima, mas também detonou os ativos de renda variável. Em 2015, quem não se lembra das frustrações associadas ao governo Dilma Roussef? Já 2021, a extensão da pandemia e as concessões do atual governo fez deste ano uma espécie de Dilma 2.

Observe o seguinte: os anos subsequentes a 1995, 2002 e 2015 foram anos de fortes valorizações nas bolsas! Seguindo esta lógica de um padrão confirmado por somente 3 observações (há ironia aqui), o leitor deve inferir o seguinte: será que os anos subsequentes a 2021 não serão análogos aqueles vistos nas três ocasiões anteriores?

Penso que a pergunta é super válida. Tony Volpon, que já esteve no BC e já participou de eventos organizados pela ICAP, disse ontem na mídia que está otimista com as perspectivas para os ativos brasileiros. Chamou a atenção a respeito do câmbio defasado e do potencial de um "revival" do superciclo das commodities. Dito isso, não posso deixar de expressar aqui a minha dose de ceticismo. Não que eu esteja pessimista com relação ao atual nível das ações brasileiras. Penso que elas devem se recuperar, mas devemos monitorar de perto o que ocorre na China que é, em última instância, o comprador marginal dos ativos globais.

Poderia apresentar por aqui diversos argumentos na direção contrária, tomando como base uma perspectiva internacional. No entanto, o esforço seria um puro exercício de especulação. Sendo assim, concluo este texto te convidando a navegar neste mercado ciente dos artifícios estatísticos praticados por todos nós que habitamos este mundo das ações. No passado, sempre que a bolsa se tornou "POP" tivemos problemas. Caminhe com otimismo, mas cuidado com o que é conhecido como "wishful thinking"!

Marink Martins


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