Brent a US$100!
O gráfico acima ilustra o estoque de barris de petróleo dos países membros da OECD. Após um período de abundância devido ao excedente gerado nos EUA, o mundo agora passa a ter que conviver com uma certa escassez.
No MyVOL ThinkBOX de ontem falei sobre o fato de que as petrolíferas globais estavam em tendência de alta e apresentei também uma interpretação um pouco mais técnica como argumento para o movimento de valorização baseada no que é conhecido no mercado de opções como SKEW de volatilidade (tema central do meu projeto sobre Dynamic Hedging junto a Inversa Publicações - Projeto O Clube dos 5).
Pois é, hoje volto ao mesmo assunto, pois a Gavekal nos apresenta argumentos sólidos para vislumbrarmos um cenário em que o preço do Brent possa superar a barreira dos US$100 nos próximos meses.
Aqui, vale lembrar que uma das razões pela qual eu demonstro plena confiança na equipe de Louis-Vincent Gave advém do fato que sua equipe acertou em cheio ao prever a derrocada no preço do petróleo iniciada em meados de 2014. Naturalmente, a coerência de sua análise em diversos tópicos é também admirável.
Os argumentos para uma valorização no preço do petróleo não chegam a ser uma novidade. Eu mesmo venho explorando este tema em minhas apresentações. Estamos falando aqui de um gargalo na produção de petróleo na área do shale gas/oil americano que combinado com as sanções ao Irã e as dificuldades de produção na Venezuela culminam em uma situação onde não haverá ociosidade dos países produtores da OPEP.
Entrando em um pouco mais de detalhes, estima-se que o mundo irá perder em termos de produção 1,5m de barris/dia advindos do Irã e 500k barris oriundos da Venezuela. Estes 2m de barris, somados a uma demanda adicional estimada para 2019 de 1,5m de barris, contribuem para uma situação de elevada pressão para o preço da commodity.
Ao longo deste fim de semana a Arábia Saudita mencionou contar com 1,5m de barris de capacidade ociosa. Além disso, é possível que os americanos, animados com uma alta no preço do barril, contribuam com um adicional de 1,6m de produção.
Tudo isso, naturalmente, são estimativas que podem e devem ser alteradas diante da dinâmica dos mercados. Sabe-se que o Irã sempre acha uma forma para driblar as sanções americanas. E, neste sentido, a Gavekal afirma que um fator determinante neste xadrez será o comportamento chinês diante das sanções americanas a produção de petróleo iraniana. No último ano os chineses compraram 620k barris/dia do Irã. Até o momento o gigante asiático diz que irá ignorar tais sanções. A Gavekal, entretanto, nos apresenta argumentos que nos levam a crer que, desta vez, é provável que os chineses, inicialmente, deverão seguir a cartilha imposta por Washington.
Trazendo tudo isso para o cenário brasileiro, podemos traçar algumas estimativas no curto prazo. É possível e provável que a Petrobras passe a se destacar em termos comparativos com outras empresas do IBOV. Assim, uma posição comprada em Petrobras protegida com vendas em contratos futuros do IBOV tende a ser uma operação interessante.
O risco que se apresenta neste cenário diz respeito à política de preços da Petrobras. Acredito que mesmo em um cenário em que Haddad assuma a presidência do Brasil seja pouco provável uma repetição dos mesmos erros provocados durante a gestão da empresa no período Rousseff.
Para finalizar, é importante destacar também que um cenário em que o preço do petróleo estará mais alto representará um dreno de liquidez global. Isso poderá contribuir para uma contínua aversão a mercados emergentes, e poderá impactar negativamente o poder de compra dos consumidores brasileiros. É justamente por isso que, ao mesmo tempo em que contemplo a possibilidade de uma posição comprada em Petrobras logo penso em um "hedge" através de contratos futuros do IBOV. Afinal, não se esqueça que uma alta no preço do petróleo pode ser interpretada também como um importante imposto global que representa uma transferência de riqueza dos países consumidores para os produtores.
Marink Martins