Como manter o foco em meio a tanto ruído

25/04/2018

Há pouco tempo fiz um post lúdico ilustrando que quanto menor for o seu prazo de investimento mais você estará próximo da aleatoriedade, do movimento browniano dos preços, do caos nietzschiano.

Na ilustração em anexo, temos o movimento browniano: o movimento de partículas suspensas em um fluido que se chocam aleatoriamente. Agora imaginem se tivéssemos um narrador para estes movimentos! Seria certamente algo insano, e pouco nos ajudaria a detectar os movimentos futuros da partícula.

Embora o comportamento das massas, em alguns casos, confira um certo grau de previsibilidade ao comportamento dos preços de alguns ativos, julgo que boa parte do que chamamos de "intra-day" dos mercados seja dominado pelo aleatório.

Assumindo tal premissa, afirmo ser um desafio passar o dia todo lendo análises e ouvindo a CNBC em busca de detectar o que realmente importa.

Por desempenhar tal função há bastante tempo, as vezes consigo saber de antemão se um determinado entrevistado tende a influenciar ou não os preços de mercado.

No passado, bastava a estrategista da Goldman Sachs, Abby Joseph Cohen, aparecer na TV, que investidores mais atentos já entravam comprando em antecipação a sua fala. Abby representava o otimismo dos anos 90.

Já na década passada, bastava uma aparição de Nouriel Roubini para que o mercado temesse.

Hoje, estamos um pouco carentes destes figurões. Provavelmente devido ao fato dos Bancos Centrais terem transformado as regras do jogo com seus estímulos quantitativos inusitados.

E, justamente devido a estas transformações, que julgo que o mais prudente neste momento seja focar no que seus representantes têm a dizer.

Neste sentido, quando o atual presidente do banco central de Nova York, William Dudley, disse ao mercado na última quarta-feira, dia 18, as 16:15, que o mais importante neste momento é que o FED normalize a taxa de juros, elevando a taxa do fed funds para 3%, os mercados não só reagiram negativamente, mas vem se ajustando desde então.

Ontem tivemos um dia negativo influenciado por comentários do CFO da empresa Caterpillar afirmando que a lucratividade da empresa parece ter atingido um pico. Seu comentário não só derrubou as ações de sua empresa, mas também de todo o setor industrial norte-americano.

Acima, a variação no preço das ações da Lockheed Martin (LMT), Caterpillar (CAT) e 3M (MMM) durante o pregão de ontem. 

Estamos em um período de divulgação de resultados justamente em um trimestre marcado por um enorme crescimento da lucratividade; algo próximo a 20% ao ano. O nível de ruído está elevadíssimo.

Sendo assim, é importante que o investidor observe que o mais importante neste momento não são necessariamente comentários relacionados a crescimento da lucratividade. O que realmente vem exercendo uma maior influência são os comentários a respeito da normalização de taxas de juros e expectativas inflacionárias. Recentemente, representantes tanto da Caterpillar como da Kimberly Clarck manifestaram preocupações com relação ao aumento de preço das matérias primas. 

O que será feito em meio a tais pressões inflacionárias parece ser o que está e irá ditar a tendência dos mercados. Estamos naquele período do mercado onde notícias oriundas de Washington roubam o show! 

Por aqui, a situação não é muito diferente. Estamos mais a mercê de Brasília do que de São Paulo, o que historicamente indica um período de maior volatilidade e maior correlação nos mercados.

Por isso, fique atento e esteja preparado para variações no preço de seus ativos que, de imediato, poderão te parecer insensatas, mas que no fundo, denotam uma mudança de paradigma na economia global.

A húbris ou hybris é um conceito grego que pode ser traduzido como "tudo que passa da medida; descomedimento" e que atualmente alude a uma confiança excessiva, um orgulho exagerado, presunção, arrogância ou insolência, que com frequência termina sendo punida.

A mídia financeira não para de fazer alarde no que diz respeito à falta de apetite dos investidores estrangeiros. Foi publicado ontem no Valor Econômico:

A imagem abaixo busca classificar os detentores de ações emitidas por empresas americanas entre as seguintes modalidades: famílias (Households), fundos passivos, fundos indexados (ETFs), fundos ativos, fundos de pensão, investidores estrangeiros, "hedge funds", empresas, e outros. A imagem é um tanto polêmica, pois apresenta o valor de mercado do...

Marink Martins

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