Convivendo com a repressão financeira

01/09/2020

Em momentos de repressão financeira - períodos de juros reais negativos - os investidores ficam afoitos.

Fico impressionado como investidores preferem o incerto da bolsa - mesmo acompanhado de um maior risco de perdas - do que uma perda certeira de ter o dinheiro parado em conta corrente.

Trata-se aqui de um fenômeno comportamental daqueles estudados por Daniel Kahneman e Richard Thaler. Investir nos coloca em movimento, nos permite sonhar. Algo certamente melhor do que a realidade apresentada pelas taxas de curtíssimos prazos.

Uma análise a respeito do comportamento dos ativos neste período pós-pandemia indica que os investidores decidiram embarcar em 4 classes de ativos:

  • Ações de empresas de tecnologia
  • Ações de empresas de energia alternativa (ESG)
  • Ouro e outros metais preciosos
  • Ativos chineses: ações e renda fixa

O nível de incerteza associado a cada uma dessas classes vem crescendo significativamente. Seja por questões estruturais, ou pela simples apreciação destes, o fato é que o FOMO ("fear of missing out" ou "medo de ficar de fora") começa a dar espaço para um outro sentimento, o "fear of being in" (medo de estar investido em tais ativos).

Uma razão para o crescente receio pode estar relacionada a frase dita pelo presidente do BC - Roberto Campos Neto (RCN): "não existe juro baixo sem equilíbrio fiscal".

Bem, a julgar pelo orçamento apresentado pelo governo ontem, estamos muito distantes de um equilíbrio fiscal. Fala-se em um déficit primário para 2021 de R$237 bi; um déficit nominal de R$481 bi ou 6,3% do PIB estimado.

Pense comigo: se o governo planeja um orçamento de R$1,516 trilhão, com um déficit nominal que é quase 1/3 deste total, não estamos nem perto de um equilíbrio fiscal. E, seguindo a afirmação dita por RCN, não podemos assim acreditar que o juro real permaneça baixo.

Por tudo isso, concluo esse texto dizendo o seguinte: é necessário sermos fortes e combatermos a atual transumância, pois trata-se de um movimento sazonal. Prefiro atuar de forma tática, preservando liquidez para pontos de entradas mais oportunos que deverão se materializar nos próximos meses.

Marink Martins

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