Convivendo com as ansiedades de agosto

07/08/2023

O mês de agosto marca o início daquele que, historicamente, é o trimestre mais desafiador ao mercado de renda variável global: agosto, setembro e outubro. Há estatísticas que apontam para agosto como o pior mês do ano em termos de retornos mensais associados ao índice S&P 500 -- principal índice de renda variável dos EUA. No texto de hoje, busco explorar 3 temas importantes nos dias de hoje.

1. Resultados corporativos do 2T23 nos EUA:

A temporada de divulgação dos resultados do 2T23 nos EUA já está aproximadamente 85% completa. De forma resumida, os analistas da "Datatrek" nos dizem que os resultados estão bons, porém, refletindo uma importante diferença: boa parte dos ganhos veio de redução de custos ao invés de crescimento de receitas. Abaixo, um comentário (em inglês) diretamente da equipe de Nick Colas que resume muito bem o segundo trimestre corporativo nos EUA:



2. Volatilidade e aversão a risco nos mercados:

Uma das principais surpresas que ocorreu nos mercados globais ao longo deste ano foi o colapso na volatilidade implícita associada aos principais índices de renda variável. Observe que não estou falando aqui exclusivamente do VIX (associado ao S&P 500) que caiu de um patamar de 20% para 14% nos últimos meses. No Brasil, a VOL do BOVA11 (ETF que acompanha o Ibovespa) também caiu na mesma proporção.

Todavia, em termos de riscos globais talvez seja mais importante voltar os olhos para a "matriz" (EUA) e analisar como estão os "spreads" (diferenciais de taxas) dos títulos corporativos em relação aos títulos emitidos pelo tesouro dos EUA (em tese, títulos que possuem risco zero). No gráfico abaixo, nota-se que tanto os títulos classificados como "investment grade" (linha preta), assim como os títulos classificados como especulativos (linha vermelha), voltaram a registrar os mesmos "spreads" daqueles registrados antes da quebra do banco Sillicon Valley Bank, em março deste ano. Isto é, a percepção do mercado é que está tudo caminhando bem na economia americana.

3. Estímulos chineses

Apesar do ceticismo em relação o verdadeiro "desejo" dos membros do Partido Comunista Chinês em relação a "impulsionar" a economia do país através de estímulos fiscais, há fortes indícios de que os políticos do país não estão indiferentes ao que está ocorrendo nos mercados. Sabe-se que a economia chinesa vive uma transição dolorosa na qual diminui sua dependência do setor de construção civil e busca expandir a participação do setor tecnológico. Neste meio termo, o que especialistas nos falam é que o esforço fiscal a ser implementado será mais tímido com o objetivo de somente estabilizar o crescimento do PIB nominal, e não "turbiná-lo" como no passado.

Ainda que a notícia não seja encorajadora, é importante termos em mente que os políticos chineses irão fazer o que for necessário para evitar um colapso do setor de construção civil.

Agora, vamos ao que realmente importa neste momento: fiscal, fiscal, fiscal!!!

Pode-se falar de resultados da Apple (já saiu e decepcionou), da Nvidia (ainda não saiu), da Petrobras (saiu) ou do Bradesco (saiu e decepcionou), mas se tem algo que está fazendo diferença ao longo deste ano de 2023, é o esforço fiscal que está sendo implementado em diversos cantos do planeta.

E é justamente aí que acredito que o nosso Brasil poderá aproveitar uma janela que se abre. Pois veja que os EUA, a Europa, e até mesmo a China, estão sustentando suas economias através de um esforço fiscal "mostruoso". Em destaque, a performance da economia norte-americana certamente seria bem diferente da atual caso não estivesse em curso o tal "Bidenomics" -- algo que, como já falei antes, me faz lembrar o PAC da Dilma Rousseff.

Na Europa, analistas da Gavekal relatam um colapso no crescimento da produtividade, pois o único segmento que vem agregando novos empregos é justamente o setor menos produtivo -- o setor público. Na mesma batida, a demanda por crédito no velho continente está quase 100% concentrada por instituições públicas. A verdade é que o setor privado já vive uma recessão.

No Brasil atravessamos um período difícil com o elevado endividamento das famílias. No entanto, ao contrário do mundo desenvolvido, entramos em uma fase de alívio monetário que deverá culminar em uma expansão fiscal típica de um governo petista. Tudo isso deverá levar a um crescimento no PIB nominal do país. Concluo com o gráfico abaixo em que observamos como, no longo prazo, o nosso Ibovespa tende a crescer em sintonia com o nosso PIB nominal.

Marink Martins

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