Quando o Bear Stearns quebrou, o mercado subiu!

12/11/2019

Acima, Jim Cramer, âncora do programa "Mad Money" da CNBC foi vilificado pelo mercado ao errar em sua avaliação quanto a saúde financeira do Banco Bear Stearns. 

Eu chegara atrasado naquele dia 16 de março de 2008. Ao chegar no escritório da Corretora Novinvest, o sábio Samuca exclamou: você não vai acreditar no que aconteceu! O Bear Stearns quebrou! Vai ser vendido ao J.P. Morgan Chase por US$2/ação! O mais surpreendente, entretanto, veio a seguir: os mercados estão subindo!

O ano de 2008 foi certamente o ano mais marcante em minha vida. Eu ganhei uma fortuna no dia 15 de abril daquele ano quando surgiram rumores de que o tamanho do poço da Petrobras em uma região do pré-sal denominada como Carioca era de 50 bilhões barris. Fui rápido no gatilho e surfei uma onda inusitada de valorização das ações que durou aproximadamente 30 minutos. Alguns meses depois - no auge da crise  financeira que tomou os mercados em 2008 -- entreguei tudo e mais um pouco! Não preciso dizer aqui que as consequências em termos sociais e econômicos foram nefastas.

Abordo este assunto trágico para passar uma simples mensagem. O mercado é míope! A tese de que o preço de um ativo reflete todas as informações disponíveis é uma falácia que, por incrível que pareça, ainda ilude muitas pessoas no mercado.

A famosa crise de 2008 teve início em agosto de 2007 com relatos de dificuldades financeiras de instituições como o BNP Paribas, a financeira Countrywide e o próprio Bear Stearns. Mesmo assim, os bancos centrais foram rápidos no gatilho, inundando os mercados de liquidez via operações compromissadas; refiro-me a operações de "repurchase agreements" similares as realizadas no mês de outubro deste ano nos EUA.

Observe que recentemente o FED decidiu embarcar em uma nova onda de afrouxamento monetário com recompras mensais de títulos do tesouro de curto prazo em um volume de US$60 bilhões. O BCE vem fazendo algo parecido, só que com títulos de longo prazo e volume financeiro menor (20 bilhões de euros por mês).

Acima, a cronologia da derrocada daquele que, na época, era o quinto maior banco de investimentos dos EUA.

Chamo a sua atenção ao fato que, em agosto de 2007, o Banco Bear Stearns já tinha sérios problemas. Mesmo assim, o preço de suas ações atingiu uma máxima em janeiro de 2007!!!

Como estariam os mercados de hoje na ausência destes estímulos?

Bem, tivemos uma amostra da fúria dos mercados no período natalino passado. Será que as instituições monetárias terão sucesso ao impedir uma derrocada nos mercados? A resposta certa a esta pergunta é: ninguém sabe!

O que sabemos, entretanto, é que se a crise de 2008 foi uma associada a crédito, uma possível crise em 2020 poderá estar associada a uma queda brusca na lucratividade. Afinal, se a manutenção de juros baixíssimos permite o surgimento de empresas de baixa produtividade, conhecidas como "zombie companies", em um determinado momento a dificuldade de tais empresas em prosperar virá à tona. Seguindo esse raciocínio, não é exatamente isso o que está ocorrendo com a empresa WeWork, uma vez avaliada em quase US$50 bi, e que agora luta para sobreviver?

Finalizo esse texto soando o seguinte alarme: fiquei extremamente preocupado com a queda no preço das ações da Petrobras na última quarta-feira. O preço caiu de R$30,70 para R$28,10 (queda > 8%), de forma rápida e com volume expressivo. Foi como se estivéssemos em meio a um "flash crash", similar ao ocorrido em 2010. Quedas destas magnitudes não ocorrem em mercados saudáveis.

De volta a crise de 2008, durante o período entre agosto de 2007 e maio de 2008 o IBOV subiu 30% e o índice S&P 500 caiu somente 5%. Tudo parecia estar saudável. O problema é que não estava! Esteja preparado para um "sacode" nos mercados! Eu sofri com a queda nas ações da Petrobras na última quarta-feira. Por isso, já estou promovendo os ajustes necessários.

Marink Martins 

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