Correlações e fundamentos

17/07/2023

Diz-se que, no longo prazo, o preço dos ativos tende a convergir a seus fundamentos. Isto é, no longo prazo, a valorização de preço de uma determinada ação tende a ser proporcional ao crescimento da lucratividade da empresa em questão. No curto prazo, entretanto, são as questões de natureza técnica e de posicionamento que parecem reinar na precificação das ações. Isso sempre foi assim, ainda que as notícias nos levem a crer em algo diferente. E refletindo a respeito destes temas, começo a semana compartilhando algumas imagens e comentários pertinentes para uma melhor compreensão do que está em curso nas bolsas globais.

Brasil -- Alta correlação dos ativos e alto VOL Realizado

Na semana passada testemunhamos um IBOV que, não só se comportou de forma "pesada", mas também com alta correlação entre as partes. Em outras palavras, quando a bolsa caiu (e lembre-se que caiu de forma assustadora na manhã da terça-feira, logo após a divulgação do IPCA), tudo caiu junto. Acredita-se que uma das razões para a "underperformance" brasileira registrada na semana passada tenha a ver com o montante de operações secundárias ("follow on"). Quando uma empresa emite ações a preços descontados, tal evento funciona como uma espécie de "dreno de liquidez", fazendo com que muitos fundos tenham que vender posições em ações existentes para fazer caixa para tirar proveito da oportunidade que surge.

A surpresa não ficou restrita à correlação entre as partes. A volatilidade realizada ficou bem acima da implícita. Isto é, o mercado oscilou bem mais do que estava embutido nos preços dos derivativos.

EUA -- Baixa correlação dos ativos e baixo VOL Realizado

Curiosamente, nos EUA ocorreu justamente o oposto. Será que foi por maldade daqueles que mandam nos mercados ("dealers & market makers")? Não tenho como provar, mas certamente há fortes indícios. Por lá, o mercado aproveitou todos os dados econômicos associados à inflação e embarcou em uma alta consistente com baixa correlação entre as partes. Dito de outra forma, observou-se por lá uma forte rotação entre ativos.

O que esperar para esta semana? Aproveito para compartilhar algumas imagens fornecidas pela Datatrek que podem nos ajudar...

1. Nos EUA, os preços estão andando bem à frente da lucratividade. Na tabela abaixo, observamos que o setor de tecnologia viu seus preços subindo 117% enquanto sua lucratividade subiu somente 58,5% nos últimos quatro anos. Com isso, o próprio S&P 500 anda bem distorcido.

2. As pessoas físicas parecem não estar muito "antenadas" com os mercados. De acordo com o Google Trends, a procura pela expressão "Dow Jones" está longe do pico. Penso que boa parte da febre especulativa que ouvimos a respeito das "big techs" tem a ver com um posicionamento inadequado de investidores institucionais.

3. Todas as 7 "Big Techs" estão com seus preços acima, ou bem próximos dos preços alvos estabelecidos pelos analistas. A Apple, por exemplo, está negociando um pouco acima do seu preço alvo de 189 dólares (média de preço estabelecido por analistas "sell side").

Marink Martins

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