Cramer, Gross, Buffet e as Tendências Globais

11/01/2018

Falar é de graça. Agora, falar para as multidões é certamente um privilégio para poucos. Quando um dos três personagens ao lado fala, o mundo escuta.

O mais falante de todos é sem dúvida Jim Cramer, âncora do programa diário Mad Money na CNBC. Cramer, embora polêmico, é uma pessoa de enorme coerência e muito contribui para que naveguemos o mercado de forma disciplinada. Famoso por expressões como "Discipline trumps conviction" e "Bulls make money, Bears make money; Pigs, however, get slaughtered", Cramer é, sem dúvida alguma, o conselheiro financeiro mais famoso do mundo. Além de dar vida ao acrônimo FANG (Facebook, Apple, Netflix e Google), ele se destacou ao longo dos últimos anos ao alertar investidores a não ficarem girando as ações da Apple. Dizia ele: "Apple shares should not be traded; they should be owned".

Dito isso tudo, Cramer ontem caminhou em uma direção contra-intuitiva um tanto perigosa. Afirmou que rumores de que os Chineses venderiam parte de sua enorme posição em títulos da dívida americana seriam positivos para a economia americana. Afinal, com a curva de juros mais inclinada, os pessimistas não teriam mais como argumentar que a economia estaria caminhando para a recessão. Complementou argumentando também que uma curva mais inclinada beneficiaria os bancos.

Bem, para quem não acompanhou o noticiário de ontem, um dos temas principais foi a elevação na taxa dos títulos do tesouro americano de 10 anos que se aproxima de 2,6%, subindo quase 60 basis points nos últimos dois meses. Julgo aqui que Cramer, mesmo diante de toda sua sabedoria, pode estar sendo conduzido por uma segunda intenção, um mau-impulso, pois muito se beneficia deste mercado que só faz subir. 

Já Bill Gross, considerado no passado o rei da renda fixa, não demorou para decretar o fim do longo "bull market" dos juros; algo que, em sua conta, durou 25 anos. Embora Bill Gross seja um bilionário e tenha uma carreira invejável, o lendário investidor sofreu nos últimos 8 anos.

Ele e Mohamed El-Erian, com sua teoria de um "new normal" erraram o "timing" do mercado de forma notória. Seu fundo performou mal e o desgaste acabou fazendo com que tivesse que trocar a PIMCO pela Janus. De qualquer forma, Gross ainda desfruta de muita credibilidade. Ontem, ao anunciar um ponto de inflexão no mundo dos juros, procurou ser cuidadoso e disse que espera somente duas elevações no fed funds ao longo de 2018.

Warren Buffet, por sua vez, ao conceder uma entrevista a CNBC passou a impressão de que devemos todos estar 100% em renda variável e de que o céu é o limite. Aproveitou também para alfinetar a galera das cryptomoedas prevendo um fim infeliz.

Quem sou eu para criticar o oráculo de Omaha, mas reitero aqui que Buffet é um dos maiores marqueteiros do mundo. Um dos maiores vendedores de opções do mundo através de suas enormes participações em seguradores e resseguradoras, Buffet busca sempre valorizar seu "book". Desconfio aqui que com seus 9,9% de participação no banco Wells Fargo, Buffet não deseja o sucesso das cryptomoedas.

Me surpreendo como pouco se fala sobre o iminente IPO da petrolífera Saudi Aramco. Os banqueiros de investimentos estão definitivamente salivando por "fees" e farão de tudo para manter o preço do petróleo em um preço bem atrativo para que no fim dê tudo certo. Digo: dê tudo certo pare eles, não necessariamente para você.

Nesta semana gravei um Tendências Globais no qual falo sobre tal IPO:

 

Por fim, observo aqui que mitos não são nada mais do que mitos; figuras de nossa imaginação. Antes de serem mitos, são humanos que demandam atenção, aplausos. Como dizia o grande filósofo Samuca de Vargem Grande: onde há dinheiro, há sacanagem!

Marink Martins,

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