Egged!

24/07/2023

Foi assim que Andrew Sheet, estrategista de "cross assets" do Morgan Stanley, descreveu as condições atuais do mercado de capitais global. Está certo que o Morgan Stanley -- que também é casa do estrategista Mike Wilson -- vem insistindo em uma "pegada" pessimista e vem errando os prognósticos em relação ao desempenho da economia dos EUA. Todavia, o que há em comum entre os estrategistas do banco é que quase todos vem apontando para o fato de que as projeções de lucro, tanto as globais (associadas ao ETF ACWI) e as americanas (associadas ao S&P 500), não estão subindo. Assim, observa-se neste momento um raro período de expansão de múltiplo em meio a um período em que a lucratividade das empresas vem se contraindo.

O desempenho das bolsas globais nos últimos meses foi tão surpreendente que, de forma conspiratória, pode-se imaginar a existência de um algoritmo comandado por uma instituição trilionária cujo objetivo, ao longo dos últimos 7 meses, foi "espremer" os convictos; os seguidores do que um dia pode ser sido chamado de bom senso. Afinal, aquele que apostou na reabertura chinesa se frustrou tanto quanto aquele que se intimidou após a quebra do banco Silicon Valley Bank.

Foi bem aquele que estava alocado em apostas "underweight"; dito de outra forma, aqueles que foram contra o bom senso. Esta ideia de que a narrativa dominante tem sido uma espécie de contra-narrativa, não se aplica só para os investimentos em "big techs" dos EUA, mas também para as ações brasileiras que começam a ganhar "momentum".

Olhando para frente, estrategistas que acompanho nos dizem que a grande questão é saber o que é mais importante no momento:

1. A força desinflacionária chinesa resultante de excessos cometidos em uma economia que cresceu através de alavancagem e investimentos concentrados no setor de construção civil, ou

2. O enfraquecimento da moeda americana resultante de uma rápida deterioração fiscal norte-americana que embute déficits gêmeos (fiscal e em conta corrente) que somados equivalem a mais de 10% do PIB dos EUA.

Em outras palavras, será que devemos temer uma continuidade do enfraquecimento da moeda chinesa ou uma continuidade do enfraquecimento da moeda norte-americana?

Um iuane mais barato poderia representar uma enorme deflação global e um eventual colapso nos preços das commodities. Tudo isso não seria nada positivo para o Brasil. Já um contínuo enfraquecimento do dólar, teria o efeito oposto. Venho, nestes comentários, explorando a tese de que uma janela se abre ao Brasil na qual o país poderá embarcar em maiores gastos fiscais sem temer mega-desvalorizações cambiais (como no passado) justamente por acreditar que o maior evento do momento é forte deterioração fiscal que toma conta dos EUA.

Como você pode ver, neste texto eu não só fiz o questionamento, mas expressei a resposta através da minha própria opinião. Assim, concluo reiterando o meu otimismo com a economia brasileira que está prestes a viver um ciclo de cortes de juros, uma reversão na deterioração da inadimplência e uma onda de investimentos públicos. As nossas contas externas vivem um bom momento e o Tesouro Nacional mantém uma posição de liquidez sólida, com um "colchão de liquidez" superior a um trilhão de reais. Por fim, na semana passada, tivemos a BlackRock e a Gavekal -- dentre muitas instituições -- reiterando suas recomendações favoráveis aos mercados emergentes.

Marink Martins


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