De Julius Clarence a Nero Tulip, segundo a minha interpretação

19/04/2018

De Julius Clarence a Nero Tulip, segundo a minha interpretação.

Ambos começaram suas respectivas carreiras atuando em uma das bolsas de Chicago, porém, suas trajetórias como "traders" foram bem distintas, quase opostas. Julius Clarence, o protagonista do clássico Os Mercadores da Noite, escrito por Ivan Sant´Anna, fez uma longa e rica passagem pelo mercado de capitais, levando seu conhecimento adquirido como "scalper" da CME até os Conselhos de Administração de empresas adquiridas por sua "holding", a Clarence & Associados. Visionário e ambicioso, Clarence era um homem de conexões e paixões. Casou-se quatro vezes, sendo que, como consequência de seu terceiro casamento, teve que se desfazer de um negócio importante, pois se apaixonara pela mulher de seu sócio. Clarence pensava grande, sabia onde queria chegar, e para isso não hesitava em se alavancar quando de posse de informações relevantes. Fez fortuna com a crise do petróleo e com outros eventos marcantes. Em momentos de adversidade, Clarence chegou a utilizar o dinheiro de seus clientes para cobrir uma crise de liquidez em sua corretora, ciente de que tal atividade violava as leis definidas pela SEC. Filosoficamente, Clarence simbolizava o dionisíaco, o Deus do vinho, que trazido para o ambiente dos mercados, estaria associado ao risco, à alavancagem, à concentração, à volatilidade, à agressividade nas negociações, à euforia e à depressão.

Já Nero Tulip, conforme mencionado, representa o oposto: o Apolíneo, o Deus da forma, da estética, que nos mercados simbolizaria a disciplina, a paciência, a parcimônia e a diversificação. Um dos personagens principais do livro "Fooled by Randomness" (Iludido pelo Acaso), de Nassim Taleb, Tulip teve uma vida certamente mais entediante que aquela vivida por Clarence. Sob a tutela de um famoso "pit-trader" de Chicago, aprendera desde cedo que para sobreviver no mercado o essencial era evitar grandes perdas, e para isso se tornou seguidor do que ficou conhecido como o paradoxo de Klipp, no qual seus seguidores passaram a preferir uma séria de pequenas perdas acompanhadas de um lucro desproporcionalmente maior; era a busca pela a famosa "assimetria". Tulip era conservador e mantinha aproximadamente 80% de seu patrimônio investido em títulos do tesouro americano de 10 anos. Os outros 20%, eram mantidos em ativos líquidos, como fundos de "money market", para que pudessem ser direcionados ao mercado de opções sempre que detectasse distorções de mercado dignas da tal "assimetria" que tanto perseguia. Diferente de Clarence, que aproveita seus horários livres para fazer negócios e interagir, Tulip era mais recluso, antissocial, apaixonado por livros relacionados ao pensamento econômico austríaco. Casado uma única vez, Tulip viu seu patrimônio crescer sem grandes sustos. Sua perda máxima de patrimônio fora de 8% e ocorrera ao longo de um período de 24 meses em que todas suas apostas (Calls e Puts) viraram pó. Seu patrimônio provavelmente era bem inferior a aquele registrado por Clarence em seu ápice, porém, sua disciplina permitira passar por uma vida, pelo menos no mundo das finanças, sem grandes arrependimentos.

Trago estas minhas interpretações sobre estes dois personagens com o objetivo de ilustrar duas, dentre inúmeras, formas de atuar no mercado. Embora ambas as histórias sejam uma ficção e o desfecho de ambos os personagens seja bem diferente, os protagonistas compartilham de uma enorme paixão pelo mercado de capitais. De forma resiliente, ambos acumularam o máximo de conhecimento possível no início de suas carreiras até chegar um momento em que cada um resolveu traçar um caminho mais condizente com a sua própria personalidade.

Marink Martins

Pode ficar calmo que o tema aqui é câmbio. Há quem diga que o mercado de câmbio tende a ser monogâmico por se concentrar de forma obsessiva em um único tema. Já a parte relacionada à perversão diz respeito ao fato de que esta obsessão muitas vezes desafia a razão.

É inquestionável o sentimento de desânimo que parece ter tomado conta do mercado acionário brasileiro desde o ápice atingido em 2021. E olhe que, em termos nominais, o retorno do Ibovespa desde o início da pandemia (2020) foi positivo -- próximo a 22%, ou aproximadamente 4% ao ano. Tal retorno, ainda que positivo, foi baixíssimo quando comparado ao...

Nesta semana gravei um vídeo sobre este título (para ver, clique aqui). Os rendimentos de longo prazo dispararam de 11,5% para quase 13%. No entanto, há razões para acreditar que as coisas vão melhorar a partir de agora:

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